São Paulo, domingo, 27 de julho de 1997
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Valeria a pena ver de novo

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA FOLHA

Grande alarde: vão reprisar "Dancin' Days". Muito se fala sobre o assunto: o primeiro sucesso de Gilberto Braga, o maior sucesso de outra Braga (a Sônia), glória de Glória Pires, saudades de Lauro Corona e um "Por Onde Anda" com Lídia Brondi.
Nada se fala da obra como documento de uma época: "Dancin' Days" detonou o maior fenômeno dançante no Brasil desde que Carmélia Alves cantou seu primeiro baião -a "discoteca".
E com ela vieram os novos gritos de guerra: "disco", "yeah", "baby, baby", "let's go", "booggie", etc.
Sônia Braga enfiou seu corpão com gosto de canela numa calça de "boxeur", apertou os peitos brasileiros mais famosos do mundo num bustiê de elástico e -pecado maior para essa nossa década fashion- calçou sandália com meia de lurex para dançar ao som das "Frenéticas".
As modelos de costelas à mostra e seus "personal trainers" morreriam de vergonha.
Mas o "Vale a Pena Ver de Novo" está aí para isso: matar a saudade, ou matar de rir.
Em vez de respirar, por exemplo, "A Viagem", a versão de luxo das produções religiosas da Record, por que não reprisar as coisas que realmente gostaríamos de ver de novo?
Por exemplo, Françoise Fourton como misse Albuquerque em "Estúpido Cupido", com Ney Latorraca e Ricardo Blat, que ainda tinha Cely Campello cantando em participação especial.
Ou mesmo "O Cafona", "Bandeira Dois", "Pecado Capital", "Água Viva"...
Sem falar na ainda ultramoderna "Espelho Mágico", onde a mesma Sônia Braga fazia a nossa versão de Anne Baxter em "A Malvada", como a carreirista Cintia Levi, e onde Yoná Magalhães arrasava como a decadente coadjuvante Nora Pelegrini. Sem falar que, além da novela oficial, ainda tínhamos todo o elenco "atuando", em nome de seus personagens, em outra novela dentro da primeira.
Eram duas novelas em uma. Ou uma novela na outra. Ou ainda, sei lá! Se na época já foi difícil de entender, imagina se fosse refeita com os galãs gordinhos e as garotinhas de perna grossa de hoje. Não ia dar pé.
E as novelas da Tupi, que fim levaram? Onde estão os teipes de "O Super Plá", com Rodrigo Santiago, Bete Mendes, Antônio Pedro, Marília Pêra e Hélio Souto?
Aliás, falando em Marília Pêra, que tal revermos "Bandeira Dois", "Supermanoela" e outras maravilhas? Ah, desculpe. Elas eram em preto-e-branco. E passar na TV algo em PB é pecado maior que chulé de lurex.
E Bete Mendes em "O Rebu". Nem estou falando de reprise, estou falando de remake. Assim como minha favorita "Tereza", que só valeria ver de novo se Geórgia Gomide fizesse o personagem. E o que aconteceu com ela 30 anos depois? Continua má?
"As Bruxas" mexia com psicanálise. Nada ao gosto do elenco de "Malhação", cuja terapia se concentra da cintura para baixo. Esse pessoal ficaria mais satisfeito com "O Machão", com Antônio Fagundes e Maria Isabel de Lizandra, dupla que tem muito para ensinar aos galãs e mocinhas de plantão.
Para fechar, um último pedido: depois de "Dancin' Days", "Locomotivas", "Maria Maria", "O Bofe", "O Espigão", "Pecado Capital" e só. Quem pode pedir mais que isso?

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