São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Cidade no PA é a 'Medellín brasileira'

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A ABAETETUBA (PA)

A cidade paraense de Abaetetuba (60 km de Belém) é o principal entreposto brasileiro usado pelos cartéis colombianos da cocaína para enviar à Europa.
O apelido de Abaetetuba na Europa indica a importância do lugar para o narcotráfico: "Medellín brasileira".
Referência à cidade colombiana de Medellín, sede de um dos cartéis da máfia da cocaína, o apelido é adotado pela Fundação Giovanni Falcone -sediada na Itália e estudiosa de temas mafiosos- a partir de informes entre a Interpol (polícia internacional) e as polícias brasileira e italiana. A cocaína da Colômbia chega a Abaetetuba pelos rios amazônicos e por via aérea.
Não há estimativas policiais de quanto de cocaína passa por Abaetetuba. A pista de pouso da cidade -clandestina e asfaltada- comporta a decolagem de aviões carregados com até 1,5 tonelada da droga, avalia a PF (Polícia Federal).
"É uma pista sem controle, como também é a pista de Soure, na ilha de Marajó (foz do rio Amazonas)", disse à Folha o superintendente em exercício da PF no Pará, delegado José Ferreira Sales.
Agentes estrangeiros
A fim de conhecer como funciona o tráfico na área, policiais da França, Holanda e EUA estiveram no Pará. Os agentes estrangeiros sobrevoaram a região.
"Eles sentiram no sobrevôo a complexidade do problema. Ficaram surpresos com o que viram. É uma região muito vasta e despoliciada", afirmou Sales.
Pelo cais de Abaetetuba e pelas centenas de atracadouros da região, segundo apurou a Folha, costumam passar cerca de 50 embarcações envolvidas no transporte da droga a partir da Colômbia.
São barcos de vários tamanhos, tipos e calados (distância entre a superfície da água e o fundo do casco), alguns deles com capacidade para carregar cinco toneladas.
A Superintendência da PF no Pará informou que os traficantes têm adotado na região a tática chamada de "lançamento": aviões de pequeno porte dão vôos rasantes, atirando carregamentos sobre fazendas, na floresta e em rios.
A "Medellín brasileira" recebe cocaína vinda em barcos que partem da Colômbia pelos rios Negro e Amazonas. Como a fiscalização policial quase inexiste na região, a droga chega sem problemas.
A principal rota é a Colômbia-Abaetetuba-Paramaribo-Roterdã. A droga vai de barco para o Suriname (antiga Guiana Holandesa), margeando a ilha de Marajó, o litoral do Amapá e passando cerca 110 km ao largo da Guiana Francesa. No Suriname, a droga é embarcada no porto de Paramaribo (capital), com destino a Roterdã.

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