São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
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Narcotráfico é ligado a contrabando de cigarro

SERGIO TORRES
DO ENVIADO ESPECIAL

A passagem de cocaína por Abaetetuba é bancada pelos mesmos grupos envolvidos em um esquema de contrabando de cigarros trazidos de Caiena, capital da Guiana Francesa.
Os cigarros são produzidos no Brasil e exportados para a Guiana Francesa. Os traficantes que levam a cocaína para o Suriname trazem, na volta, os cigarros brasileiros.
A Folha apurou que há quatro grupos fortes envolvidos em contrabando de cigarros e tráfico de cocaína. Dois grupos são liderados por lojistas legalmente instalados na área comercial de Abaetetuba.
O negócio dos cigarros não é reprimido pela polícia, que, vez ou outra, apreende pacotes na travessia do rio Guamá, que banha Belém. As pessoas flagradas com os pacotes costumam ser soltas.
Os contrabandistas são conhecidos no Pará como "cigarreiros". "Os 'cigarreiros' são como os bicheiros: tolerados pela população", disse o delegado de Abaetetuba, Antônio Moraes, que trabalha na cidade há quase três meses.
Para transportar a cocaína, os "cigarreiros" recorrem a marinheiros experientes, acostumados com a correnteza do rio Amazonas e com os mares agitados do litoral do Amapá e da Guiana Francesa.
"É uma viagem perigosa. Além do mar bravo, tem a corveta da Marinha, que passa de um lado a outro na costa do Amapá. Marujo novo se dá mal", disse o canoeiro que se identificou como Alencar.
Para vender cigarros, contrabandistas recorrem até a crianças. Famílias inteiras trabalham nos aglomerados de camelôs em Belém.
Marcina da Silva, 54, viaja todos os dias na balsa que liga Belém a Arapari (um dos acessos a Abaetetuba). Ela esconde cigarros em mochilas carregadas por filhos e netos, que têm até 15 anos.
Ao fim do dia, Marcina arrecada entre R$ 50 e R$ 80. Ela disse que metade é dada ao "dono da muamba".
(ST)

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