São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 1997
Próximo Texto | Índice

Júri do Khmer é farsa, diz Camboja

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O homem forte do Camboja, Hun Sen, disse ontem que o julgamento de seu inimigo Pol Pot foi uma farsa. Pol Pot, ditador entre 1975 e 1979, foi condenado à prisão perpétua pelo próprio grupo que ele comandava, o Khmer Vermelho, em um julgamento presenciado por um repórter ocidental.
"É um jogo político do Khmer Vermelho. Pol Pot é o líder do Khmer Vermelho", afirmou Hun Sen em Phnom Penh (capital). Mas o jornalista norte-americano Nate Thayer, que assistiu o julgamento e se tornou o primeiro estrangeiro a ver Pol Pot em quase 18 anos, disse que ele perdeu mesmo o comando do grupo.
"Isso não é uma farsa. Pol Pot está acabado", afirmou o repórter. "O Khmer Vermelho como o conhecemos não existe mais."
Negociações entre o governo e a guerrilha foram o estopim da atual crise no Camboja. No início deste mês, Hun Sen expulsou do governo o primeiro premiê Norodom Ranariddh. O príncipe Norodom mediava negociações de paz com o Khmer Vermelho e foi acusado por Hun Sen de tentar cooptar membros do grupo. Norodom e Hun Sen, antigos adversários na guerra civil que atingiu o Camboja por anos, dividiam o poder desde 1993 por meio de uma instável coalizão.
Julgamento teatral
Thayer disse que o julgamento, realizado em Anlong Veng, norte do país, perante 500 membros do Khmer Vermelho, era claramente teatral, mas não havia dúvidas de que a queda do ex-ditador Pol Pot era genuína.
"Você podia ver a angústia em seu rosto enquanto ele era acusado por seus ex-aliados. Ele esteve próximo das lágrimas", disse Thayer, correspondente da revista "Far Eastern Economic Review", em comunicado divulgado ontem.
A revista promete publicar a reportagem completa do jornalista em sua próxima edição. Ele disse à "France Presse" que quer pelo menos US$ 100 mil por uma foto de Pol Pot.
Pol Pot não era visto por estrangeiros desde 1979, ano em que foi derrubado do poder por uma invasão do Vietnã. Diversos rumores circularam sobre as condições de saúde e o paradeiro do líder guerrilheiro, cujo grupo, após a derrota, se refugiou no norte do país.
Sob o comando de Pol Pot, o regime cambojano de 1975 a 1979 foi responsável pela morte de mais de 1 milhão de pessoas por fome, tortura, doenças, excessos de trabalho ou em massacres.
Segundo Thayer, Pol Pot, 69, e três de seus comandantes foram considerados culpados pelos assassinatos, ocorridos neste ano, de Son Sen, chefe da Defesa do grupo, e de sua família, por "destruir a reconciliação nacional" e por roubar dinheiro do grupo.
Segundo Thayer, o lendário líder cambojano estava visivelmente abatido, vestindo roupas simples e precisou ser ajudado para se locomover depois que sua sentença à prisão perpétua foi anunciada pelo grupo.

Próximo Texto: Rei contesta indicação de Hun Sen
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.