São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Cabo é indiciado pela morte de sem-teto

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O cabo da Polícia Militar Carlos Manoel da Costa foi indiciado ontem sob a acusação de ser o autor do tiro que matou o sem-teto Crispim José da Silva durante o conflito entre policiais e invasores de um conjunto de prédios na Fazenda da Juta, em São Mateus (zona sudeste de SP), em 20 de maio passado.
Três sem-teto morreram na ação de reintegração de posse.
O interrogatório do policial na 8ª Delegacia Seccional começou às 17h50 e não havia terminado até as 19h30 de ontem. Ele não quis dar entrevistas. Seu advogado, Norberto da Silva Gomes, também não quis dizer qual seria a tese da defesa. "No momento oportuno iremos nos manifestar", disse.
Segundo o promotor Francisco José Tadei Cembranelli, o cabo havia afirmado, ao depor no IPM (Inquérito Policial Militar) sobre o caso, que não havia disparado contra os sem-teto na Fazenda da Juta. Na semana passada, o laudo de balística do Instituto de Criminalística de São Paulo apontou que do revólver calibre 38 da marca Rossi JO6424 saiu o tiro que acertou a cabeça de Silva.
Além de Costa, outro policial já foi indiciado sob acusação de homicídio doloso (quando há intenção de matar): o soldado Rui Pinto da Silva. Um outro laudo de balística concluiu que da arma do soldado Silva saiu a bala que matou o sem-teto Jurandir da Silva.
Laudo
Falta à polícia e ao Ministério Público identificar apenas o policial que matou o sem-teto Geracy Reis de Moraes -segundo a perícia, não foi constatado nenhum disparo de arma de fogo feito pelos sem-teto no dia do conflito.
Os peritos criminais que trabalham no caso deverão concluir ainda hoje um laudo complementar que visa identificar esse policial. De acordo com o delegado Antonio Mestre Júnior, presidente do inquérito comum, os peritos têm um grupo de policias suspeitos de ser o autor do disparo que matou Geracy. "Eles estão comparando imagens do conflito com o local em que o corpo do sem-teto foi alvejado para tentar identificar, por meio do ângulo de tiro, quem teria acertado a bala na vítima", disse Mestre Júnior.
Concluído o laudo, e havendo ou não a identificação desse terceiro policial, o promotor Cembranelli deverá apresentar denúncia criminal contra os envolvidos no caso.
Cembranelli está analisando a atuação dos comandantes da operação para saber se irá denunciá-los. O objetivo é saber se existe ligação entre a conduta desses policiais e o resultado do conflito -as mortes dos sem-teto.

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