São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Policiais desviam armas apreendidas no Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Policiais civis, militares e federais envolvidos na venda ilegal de armas encontram nas favelas do Rio farto material de reposição de estoques.
Parte das armas recolhidas com traficantes por policiais não costuma ser registrada nos boletins de apreensão, segundo a Folha apurou.
Os policiais envolvidos em esquemas de venda de armas fazem incursões nas favelas, apreendem fuzis, pistolas, revólveres e metralhadoras e, depois, revendem os armamentos até para traficantes.
Falta de controle
Não há nas polícias Civil, Militar e Federal controle efetivo sobre o quanto de armamento é apreendido durante as ações policiais.
Os números apresentados pelas corporações não são reais, segundo a Folha apurou junto a delegados que integram o grupo de comando da Polícia Civil.
Quando o estoque termina e não está prevista a chegada de um novo carregamento, os policiais que vendem armas vão às favelas em busca do que chamam "mercadoria".
Se a apreensão for grande, eles separam as melhores armas. O restante é registrado em um inquérito de apreensão de armas.
"Toda vez que acham um AR-15 (modelo de fuzil norte-americano) surge a suspeita: pode ter havido desvio do que realmente foi apreendido", disse à Folha um tenente-coronel que chefia um batalhão da PM na zona norte.
As armas desviadas são vendidas pelos policiais para qualquer um que se disponha a pagar o preço estipulado.
Até mesmo traficantes recorrem aos esquemas de venda de armas montados dentro das polícias.
As delegacias costumam ser frequentadas por vendedores de acessórios policiais, como coletes, algemas, coldres e cinturões.
Há até três anos, os vendedores também ofereciam armas e munições. Com a posse do delegado Hélio Luz na Chefia de Polícia Civil, a situação mudou.
"Na polícia, ninguém confia em ninguém. A Corregedoria passou a ser mais rigorosa. Quem vende arma já não escancara tanto, com medo de ser denunciado", disse um detetive da Chefia de Polícia Civil.
Os vendedores que circulam de delegacia em delegacia têm os policiais como clientela principal.
A origem das armas e acessórios vendidos por eles costuma ser o Paraguai. O material entra no Brasil escondido em caminhões ou em aviões de pequeno porte.

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