São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Engenheiro usa dossiê como seguro de vida

DA SUCURSAL DO RIO

Juízes, políticos, empresários e autoridades da área de segurança supostamente envolvidos em esquemas criminosos -como o tráfico de armas- integram o dossiê montado pelo engenheiro eletrônico Cesar Marques da Rocha Filho, 43.
Rocha Filho denunciou e orientou a série de reportagens que o "Jornal Nacional", da Rede Globo, passou a exibir desde anteontem sobre tráfico de armas e outros crimes. Segundo ele, o dossiê é uma espécie de "seguro de vida".
Rocha Filho disse que o conteúdo do dossiê -que reúne fotos e documentos- só será revelado se algo acontecer a sua vida. "Esse dossiê vai morrer comigo de velhice, se Deus quiser."
Dono de uma empresa que instala ignição eletrônica e faz turbinamentos em carros, entre outros serviços, o engenheiro afirmou que decidiu revelar o que sabia para mostrar ao Poder Judiciário que "não era bandido".
Ele define sua vida nos últimos anos como "um inferno", que só começou a reverter há três meses, quando a jornalista e produtora da TV a cabo "Globo News" Márcia Saad acreditou em sua história, que foi parar no "Jornal Nacional".
Ex-síndico do prédio onde tem um apartamento de luxo, com 180 m2, no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio), Rocha Filho afirmou que seu "inferno" começou em 89, quando se envolveu em brigas com outros condôminos.
A partir de obras supostamente irregulares de ampliações de apartamentos, que causaram danos à estrutura do prédio, Rocha Filho afirmou que teve que ir à Justiça contra outros moradores para o pagamento de dívidas.
Por conta dessas brigas, disse que sofreu cinco atentados contra a sua vida. Em 93, o PM Sérgio Borges teria atirado contra a sua janela. O engenheiro disse que respondeu com tiros e acabou respondendo a processo.
Borges -que acabaria preso, acusado de ter participado da chacina de Vigário Geral- conseguiu a condenação do engenheiro a quatro anos, por tentativa de homicídio. "Foi um processo totalmente forjado", disse Rocha Filho.
Ao ir para a prisão especial do Ponto Zero, em Benfica (zona norte), onde ficou detido 118 dias, o engenheiro disse que começou a levantar nomes de pessoas envolvidas com o crime no Rio, São Paulo e outros Estados.
Segundo ele, cabe agora ao Ministério Público e à "parte boa da polícia" investigar suas denúncias.

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