São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997 |
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Cabo é indiciado pela morte de sem-teto
MARCELO GODOY
O interrogatório do policial na 8ª Delegacia Seccional começou às 17h50 e terminou às 19h50 de ontem. Ele não quis dar entrevistas. Ao depor, disse que não se lembrava de haver atirado nos sem-teto, embora recordasse o nome de colegas que levaram pedradas. Para seu advogado, Norberto da Silva Gomes, o depoimento de seu cliente foi "firme e tranquilo" e relata a verdade dos fatos. "É um depoimento evidentemente divorciado da realidade dos fatos", disse o promotor Francisco José Tadei Cembranelli. Segundo ele, o cabo havia afirmado, ao depor no Inquérito Policial Militar sobre o caso, que não disparara nos sem-teto na Fazenda da Juta. Na semana passada, o laudo de balística do Instituto de Criminalística de São Paulo apontou que do revólver calibre 38 da marca Rossi número JO6424 saiu o tiro que acertou a cabeça de Silva. Segundo a PM, essa arma estava sendo usada pelo cabo Costa na operação de reintegração de posse do conjunto da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo. Além de Costa, outro policial já foi indiciado sob acusação de homicídio doloso (quando há intenção de matar): o soldado Rui Pinto da Silva. Um outro laudo de balística concluiu que da arma do soldado saiu a bala que matou o sem-teto Jurandir da Silva. Laudo Falta à polícia e ao Ministério Público identificar apenas o policial que matou o sem-teto Geracir Reis de Moraes e o que feriu o sem-teto Leandro Aparecido Ribeiro -segundo a perícia, não foi constatado nenhum disparo de arma de fogo feito pelos sem-teto. Os peritos que trabalham no caso deverão concluir ainda hoje um laudo complementar que visa identificar esses policiais. "Eles estão comparando imagens do conflito com o local em que os sem-teto foram atingidos para tentar identificar, por meio do ângulo de tiro, quem acertou essas vítimas", disse. Concluído o laudo e havendo ou não a identificação desses policiais, o promotor apresentará denúncia criminal contra os envolvidos no caso. Antes, o delegado Mestre Junior deverá fazer o relatório do inquérito. Comando Cembranelli está analisando a atuação dos comandantes da operação para saber se irá denunciá-los. O objetivo é saber se existe ligação entre a conduta desses policiais e o resultado do conflito -as mortes dos sem-teto. "O Ministério Público está atento às pessoas que comandaram essa operação desastrosa por parte da Polícia Militar", afirmou o promotor. Segundo ele, esse trabalho deverá estar concluído no começo da próxima semana. "Caso restem algumas dúvidas, as investigações deverão prosseguir em autos apartados (nesse caso, a investigação do caso continuaria mesmo após o início do processo criminal)." Texto Anterior: Fuzis AR-15 não são armas pesadas Próximo Texto: Castro sentou à frente da bomba, diz PF Índice |
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