São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Mudança no BC reforça posição de Malan

CELSO PINTO
DO CONSELHO EDITORIAL

A substituição de Gustavo Loyola por Gustavo Franco na presidência do Banco Central reforça dois personagens: o próprio Gustavo Franco e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, padrinho da indicação.
A mudança no BC, ao que tudo indica, não é consequência direta nem das críticas recentes do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, a Franco e Malan, nem da crise monetária asiática. Loyola queria sair há muito tempo.
O fato, contudo, é que a mudança veio a calhar. A mensagem implícita na escolha é clara. Se havia setores no PSDB supondo que essa era uma boa hora para disputar espaço com a equipe econômica, o presidente deixou claro que não é. Se havia banqueiros suspeitando que o Brasil poderia ser tentado a dar uma guinada voluntária no câmbio, já não suspeitarão mais.
Malan garante que a saída de Loyola estava decidida "de umas semanas para cá", antes dos dois episódios. Acha, de todo modo, importante a mensagem de continuidade da política econômica embutida na mudança. "Em momentos de turbulência, não é para se fazer experimentos."
Sérgio Motta insinuou que Malan não decidia na área econômica e que seria um bom representante diplomático para o Brasil. Malan diz que não ficou irritado com a declaração, "mas perplexo ao ver que tem gente no Brasil que acredita que é plausível imaginar que um ministro da Fazenda fica dois anos e meio no governo, fazendo reuniões às vezes diárias, entrando mudo e saindo calado".
Uma fonte bem informada diz que Malan chegou a ameaçar sair do governo. Malan desmente categoricamente.
Momento favorável
O fato é que foram levadas ao presidente duas preocupações a partir da entrevista de Motta: a de que ela poderia passar a impressão de que havia divergências no governo e a de que a autoridade do presidente saíra arranhada. O presidente, segundo um interlocutor recente, ficou muito irritado com as declarações de Motta.
É fato que Loyola pensava em sair do governo desde o início do ano passado. Malan diz que insistiu muito na permanência de Loyola, a quem atribuía a missão crucial de lidar com a reestruturação do sistema financeiro, cuja turbulência era previsível depois do Plano Real. Loyola, depois do acerto do Bamerindus, considerou a missão cumprida e voltou a insistir na saída, por razões pessoais.
Na verdade, além de razões familiares, Loyola também se sentiu desgastado com uma série de episódios de confronto político em que o BC se envolveu. No final do ano passado, fixou para si como tarefas finais, além do acerto do Bamerindus, encaminhar algumas sugestões para aprimorar o aparato institucional do BC e aposentar o Proer, o programa de ajuda aos bancos, no final do primeiro semestre.
O Proer não acabou, mas a hora de saída ficou favorável. A calmaria recente permitiu a Loyola deixar o BC sem que se possa atribuir sua saída a algum confronto político específico.
A escolha de Gustavo Franco, como diz Malan, foi natural. Malan não diz, mas o fato é que, da equipe original que fez o Plano Real com o ainda ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, Franco era o nome da vez para ocupar um cargo de maior proeminência.
Ele já havia sido fortemente cogitado para ir para a presidência do BC quando saiu Pérsio Arida, em julho de 95. Na época acabou não sendo escolhido em função das notórias divergências entre Franco e Arida. Ficou complicado premiar Franco.
Posições atenuadas
Franco foi o inspirador da valorização do real frente ao dólar, no início do Real, e ferrenho adversário (com apoio de Malan) da idéia de aproveitar o ajuste do câmbio, em março de 95, para permitir uma flutuação cambial mais ampla, que inevitavelmente levaria a uma desvalorização mais forte. Foi também um inimigo declarado de qualquer política industrial ativa e da política de subsídios à exportação.
Como nota um ministro, contudo, Franco atenuou várias de suas posições. Seu companheiro de diretoria no BC, Francisco Lopes, não só admite uma sobrevalorização cambial, como anunciou recentemente a intenção do governo de permitir uma desvalorização cambial 1% a 2% acima da inflação, durante alguns anos, como uma forma de recuperar a competitividade da moeda. Franco não falou sobre isso, mas não desautorizou nenhuma das várias entrevistas em que Lopes tocou no assunto.
Além disso, a recente decisão de obrigar parte das importações a serem pagas à vista, um obstáculo contra as importações, teve não só a concordância como a participação direta de Franco. Da mesma forma, Franco não se opôs à decisão de elevar tarifas para a importação de vários bens de capital, nem à criação de vários incentivos à exportação.
É claro que os defensores mais firmes de uma política industrial mais ativa continuam sendo o ministro do Planejamento, Antonio Kandir, e o secretário de Política Econômica da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, com apoio de seu irmão, Luiz Carlos, presidente do BNDES. Nos últimos meses, contudo, as resistências de Franco claramente arrefeceram.
Radicalismos
Ficam preservadas, contudo, as linhas mestras da política econômica e a aposta de uma travessia em direção a uma situação mais sustentável num prazo de dois a três anos. Franco é um dos pais intelectuais do desenho desta aposta e, de longe, seu mais visível e enfático defensor em público. O presidente, ao promovê-lo, fez mais um endosso da direção, ainda que, como ele mesmo costuma dizer, não concorde sempre com os radicalismos de Franco.

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