São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 1997
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Artista democratiza seu espaço de atuação

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em seus 20 anos de carreira, Ivaldo Bertazzo revelou centenas de cidadãos dançantes, em espetáculos protagonizados por pessoas de diferentes profissões, idades, tipos físicos etc.
No entanto, essa massa heterogênea e anônima, que Bertazzo provou ser capaz de se expressar no palco, sempre representou uma elite. Ou seja, aqueles em condições de frequentar, no elegante bairro do Pacaembu, a escola que Bertazzo transformou numa referência (chique) de São Paulo.
Com "Palco, Academia e Periferia", Bertazzo democratiza seu espaço de atuação. Ao integrar, num mesmo espetáculo, bailarinos profissionais e pessoas comuns das classes média e alta a grupos que podem ser considerados marginais, ele acrescenta coerência a um método de trabalho que pretende fazer da dança um signo de coletividade.
"Tocar instrumentos musicais, percutir latas, dão definições gestuais muito mais imediatas", observa Bertazzo sobre os bailarinos-músicos dos grupos populares que ele convidou para participar de "Palco, Academia e Periferia".
Antropologia
Bertazzo já trilhou vários caminhos em busca de informações sobre a antropologia do movimento. Depois de estudar e exercitar técnicas ocidentais, mergulhou nas danças de culturas distantes, de países como Índia, Bali, Java.
Hoje, em plena maturidade como educador, mostra que sabe ser um eterno e sábio aprendiz, ao procurar absorver o que a espontaneidade da cultura popular brasileira tem para ensinar.
"Estou tentando descobrir o que é o étnico urbano", comenta Bertazzo, que readquire fôlego para firmar uma assinatura coreográfica.
Novos canais
Para tanto, estabelece novos canais de troca, ao agregar a seu "Projeto Cidadão Corpo" as rupturas de timbaleiros e funkeiros, que subvertem materiais do cotidiano (como tubos de PVC) para produzir ritmos, sons e, consequentemente, passos de dança.
Mais do que um encontro, o novo espetáculo de Bertazzo promete ser um confronto. Para o público, será no mínimo curioso observar os consensos e contra-sensos de elencos diversos dispostos a ser um só.
"Temos que aprender com as diferenças", diz Bertazzo, ressaltando uma das premissas principais de seu trabalho.
"A valorização do corpo humano é instrumento fundamental para o exercício da cidadania", salienta, anunciando que depois da temporada no teatro do Sesc Pompéia, seu projeto incluirá aulas abertas pelo interior do Estado de São Paulo.

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