São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 1997
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Manual da PM é prova contra oficiais

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público irá usar o Manual de Controle de Distúrbios Civis da PM para analisar a responsabilidade dos chefes da operação de reintegração de posse num conjunto de prédios na Fazenda da Juta, em São Mateus (zona sudeste de São Paulo).
Ocorrida em 20 de maio passado, a operação terminou em um conflito entre os policiais militares e os sem-teto que deixou um saldo de três mortos e um ferido a bala -todos eram invasores do conjunto de prédios.
O promotor Francisco José Tadei Cembranelli, do 4º Tribunal do Júri, poderá denunciar criminalmente os oficiais que, por ação ou omissão, contribuíram para que ocorressem as mortes. ``O Ministério Público está atento às pessoas que comandaram essa operação desastrosa", disse.
Para tanto, além de mostrar, por meio do manual, que a ação não seguiu as normas previstas pela corporação -como o uso de policiais da tropa de choque com cassetetes, escudos, bombas de gás, balas de borracha e sem armas de fogo-, a promotoria pretende demonstrar que o plano original da ação não foi seguido.
Uma das principais provas que estão nas mãos de Cembranelli é o plano da operação. Ele previa um número de soldados da zona leste e de reforços da tropa de choque bem superior ao que foi enviado no dia da operação.
O plano também antecipava que a falta de alguns desses recursos significaria o adiamento da operação, o que não ocorreu.
No caso dos reforços, estavam previstos dois pelotões de escudeiros da tropa de choque (cada um com 22 homens), uma patrulha com dez cães, 30 policiais da cavalaria e doze policiais femininas.
No dia do conflito nenhum cão foi mandado. Apenas duas policiais femininas e 17 homens da cavalaria chegaram na hora marcada. Em relação aos escudeiros, só um pelotão chegou, com duas horas de atraso, ao local.
Laudo
Até as 18h30 de ontem, a perícia do Instituto de Criminalística não havia concluído o laudo que poderia apontar os policiais que foram os autores do disparo que matou o sem-teto Geracir Reis de Moraes e o que feriu o sem-teto Leandro Aparecido Ribeiro.
O laudo deveria ter sido concluído ontem. A expectativa dos responsáveis pela investigação era de que pelo menos um policial militar fosse identificado. Caso isso ocorresse, o PM deveria ser indiciado até amanhã -outros dois policiais já foram indiciados sob a acusação de homicídio.
Então, o inquérito seria relatado pelo delegado que o preside e enviado ao promotor, que deverá denunciar os acusados na próxima semana.

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