São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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Comércio tem nova onda de calotes

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A inadimplência de pessoas físicas no comércio atingiu 8,40% em junho passado, nos atrasos acima de 180 dias. Voltou ao patamar de abril de ano passado, quando os níveis ainda estavam bem altos.
A constatação é da Servloj, empresa que presta serviços a terceiros na área de crédito direto ao consumidor e administra cerca de 660 mil contratos ativos, em valor próximo a R$ 1 bilhão.
O Índice Servloj registra crescimento contínuo desde o final de 96. Em dezembro, era de 5,43% nos atrasos acima de 180 dias -conceito mais apropriado para caracterizar a inadimplência porque é nesse prazo que a dívida não-paga é considerada perdida.
Os atrasos até 30 dias também estão em níveis elevados, mas apresentaram leve recuo em relação ao início do ano.
Em dezembro e janeiro os índices foram de 26,15% e 25,20%, respectivamente, passando a 31,36% em fevereiro e 31,67% em março. Em abril foram a 29,34%, em maio a 28,41%, e em junho, a 29,57%.
É normal que atrasos até 30 dias tenham maior frequência porque a maioria dos clientes nessa situação acaba acertando as contas. Uma simples diferença de dias entre o pagamento do salário e o vencimento da prestação pode provocar o atraso.
Prazo e risco
O recente aumento da inadimplência é atribuído por Oswaldo de Freitas Queiroz, diretor-geral da Servloj, ao alongamento dos prazos do crediário. Isso faz cair o valor da prestação mensal e atrai mais consumidores de baixa renda, mas, ao mesmo tempo, aumenta o risco de calote.
O primeiro pico da inadimplência ocorreu em 1995/96, muito influenciado pela própria surpresa do Real, diz ele. O recorde foi em novembro de 95, com 11,44%.
O pico atual é o "efeito do longo prazo" e, ainda, das compras parceladas de final de ano, diz Queiroz, lembrando que o índice de 8,40% refere-se a carnês contratados meses atrás.
O consumo em dezembro é quase obrigatório e a qualidade do crédito tende sempre a cair. A própria entrevista com o consumidor costuma ser mais rápida, devido ao grande movimento nas lojas.
O diretor-geral da Servloj entende que a inadimplência de 180 dias crescerá um pouco até outubro, se estabilizando e caindo a partir daí. "Espero que o segundo pico seja o último", afirma.
Dados da Servloj para a inadimplência acima de 180 dias em junho indicam nível mais elevado, de 10,21%, na região Sul do país, contra 9,36% no Sudeste. Na Grande São Paulo é de 7,07%, e no interior paulista, de 6,86%. A média é de 8,40%.
Por setor, a linha mole (vestuário) registra a inadimplência acima de 180 dias mais alta: 10,21%. Um dos motivos é o perfil do consumidor que adquire sapato pelo crediário, com renda média de 2,5 salários mínimos, explica Queiroz.
Eletrodomésticos ficaram com inadimplência de 8,46%; móveis e decorações, 7,85%; material para construção, 7,43%; informática, 6,03%; e telefonia, 2,35%.

LEIA MAIS sobre crediário e inadimplência na pág. 2-12

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