São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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Violento compulsivo

JUCA KFOURI

Ficou barato para o técnico do Vasco, Antônio Lopes, ter mandado seus jogadores baterem nos do São Paulo como o microfone da TV Globo mostrou ao país no jogo dia 23 em São Januário, show de Evair.
Além da pronta reação do narrador Galvão Bueno, criticando duramente a ordem criminosa, um comentário aqui, outro ali e pronto, o assunto morreu.
Nossa digníssima justiça esportiva, por exemplo, nem se manifestou.
Pois o treinador vascaíno parece ser um amante compulsivo da violência.
Quem conta é um estudante da USP que foi colega de primário do filho de Lopes, no Colégio de São Bento, no Rio de Janeiro.
Mário Faustini, eis seu nome, relata, via e-mail, que na comemoração do aniversário de outro colega de classe, em 1983, o time de sua escola organizou um minicampeonato no Jóquei Clube carioca.
"Lá pelas tantas, nosso time, que era 'orientado' por Antônio Lopes, estava empatando o jogo e sendo tremendamente pressionado, sobretudo por um jogador adversário extremamente habilidoso. Numa paralisação mais prolongada, Antônio Lopes chamou um colega meu que estava jogando como zagueiro e repreendeu-o duramente: 'você não pode deixar o fulano passar por você, bloqueia ele de qualquer forma, QUEBRA ele, mas não deixa; e se ele passar, chuta a perna de apoio que ele cai.
"Lembro-me que cheguei a comentar o ocorrido com meus pais, que reagiram com repugnância ao relato, corroborando a repugnância que eu mesmo sentira no momento, fato que ficou para sempre impregnado na minha memória, vindo à tona sempre que discuto a questão ética sobre se os fins justificam os meios.
"E o pequeno crime que presenciei, em que um profissional maduro tentou induzir um garoto de nove anos a agir de maneira desonesta e violenta, correndo o risco de que tal atitude fosse interpretada por uma criança como correta e normal, parecia que ficaria para sempre impune.
"Só que os benditos microfones fizeram justiça, que, como diz o jargão, decerto tarda, mas não falha."
E tornaram mais compreensível ainda a preferência de Eurico Miranda por Antônio Lopes, acrescento.
E revelaram mais uma vez que o crime perfeito não existe, que a verdade sempre acaba vindo à tona, mais cedo ou mais tarde.
Dá pena do filho de Lopes.

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