São Paulo, sexta-feira, 1 de agosto de 1997
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DEMOCRACIA E AUTORIDADE

Esta Folha vem criticando, com a veemência que a gravidade da situação exige, o clima insurrecional que se instalou nos Estados em que a Polícia Militar rompeu com o princípio da hierarquia, promoveu greves e motins e ameaçou não só a segurança da população, mas a própria legalidade democrática.
A crise no setor de segurança ainda está longe de ser resolvida, mas é preciso ressaltar que o governador do Ceará, Tasso Jereissati, deu uma lição exemplar a outros governadores e a todo o país ao reagir de maneira enérgica e intransigente diante da rebelião que eclodiu na terça-feira em seu Estado.
Jereissati acertou ao afirmar que não iria negociar "com facções armadas", a exemplo do que já fizera o governador Mário Covas. Chamando para si a responsabilidade e exercendo a autoridade que a condição de governador eleito lhe dá, Jereissati afastou da corporação vários protagonistas da rebelião, mandou prender alguns de seus líderes e conseguiu contornar assim a crise.
É muito provável que toda essa tensão não tivesse assumido as proporções alarmantes que de fato assumiu se o governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, tivesse demonstrado a mesma firmeza de seus colegas e companheiros de partido quando a primeira rebelião armada ocorreu em Belo Horizonte. Democracia e exercício da autoridade não são excludentes, como fazem supor alguns que apontam um rasgo autoritário na atitude do governador do Ceará. A democracia depende do exercício da autoridade legitimamente eleita visando o estrito cumprimento da lei.
Nesse aspecto, o governo federal demorou demais para reagir. Daqui em diante, uma vez restabelecida a ordem, é preciso que Fernando Henrique Cardoso jogue todo o seu empenho no compromisso que assumiu pela reestruturação do sistema de segurança pública do país.
A comissão presidida pelo secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, deve apresentar na terça-feira ao presidente da República um esboço de projeto de lei propondo a reformulação da polícia. Espera-se que não seja tão tímido e paliativo quanto foram as propostas iniciais anunciadas nesta semana.

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