São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Doente 'renasce' após 9 meses de coquetel

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nove meses depois do início da distribuição do coquetel anti-HIV em todo o Estado, São Paulo atesta a eficácia dos remédios contra o vírus e assiste ao "nascimento" de um novo tipo de doente de Aids, que consegue retomar sua vida.
A reportagem da Folha teve acesso ao primeiro levantamento feito pela Secretaria da Saúde do Estado sobre os resultados obtidos com o início da distribuição das drogas, em novembro passado.
O estudo mostrou que os doentes estão morrendo menos e tomando menos remédios para infecções oportunistas e está crescendo o número de soropositivos que não apresentam sintomas da doença (veja quadro à pág. 3-2).
"Voltei até a fumar. São três cigarro por dia porque ninguém é de ferro", conta Roberto (nome fictício), 27, que contraiu Aids aos 16 anos, teve uma infecção generalizada que fez os médicos o desenganarem e hoje está retomando as antigas atividades.
A Secretaria da Saúde analisou, por exemplo, um grupo de cem doentes (escolhidos aleatoriamente) que estão sendo tratados com a combinação das drogas. Antes de novembro, 61% deles tinham sintomas da doença. Depois do tratamento, esse número caiu para 48%. E, de um modo geral, 47% tiveram algum tipo de melhora.
"Estamos vivendo uma nova fase da doença", afirma Artur Kalichman, coordenador do Centro de Referência e Tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids, que fez o estudo.
A nova fase se reflete no cotidiano do serviço de saúde. Caiu 40% o número de atendimento de doentes de Aids no hospital-dia do centro de referência.
No Estado, cerca de 16 mil doentes estão tomando algum tipo de antiviral. Desses, mais de 6.000 recebem o coquetel completo.
Recém-saída do mundo das teses universitárias, a terapia que mistura drogas que prejudicam de formas diferentes a multiplicação do vírus -apelidada de coquetel- não é novidade só no Brasil.
Ela foi apresentada pelo norte-americano David Ho -primeiro a mostrar casos em que o vírus foi reduzido a zero no sangue.
Não é possível saber se isso ocorreu em São Paulo porque ainda está sendo criado seu centro de exames de carga viral.

LEIA MAIS sobre Aids às págs. 3-2 a 3-4

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