São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Mercado rejeita ex-microempresários

LIA REGINA ABBUD
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho do negócio próprio pode transformar-se rapidamente em um pesadelo, caso o profissional se arrependa e tente uma recolocação no mercado de trabalho.
Dependendo do motivo do afastamento, do tempo e da idade do profissional, consultores ouvidos pela Folha consideram a decisão um caminho sem volta.
Há um receio das empresas de que o ex-microempresário não se adapte à estrutura e à hierarquia, que não esteja atualizado em relação às tendências do setor e que tenha perdido contatos na sua área.
"O raciocínio delas é o seguinte: se o empreendedor não teve sucesso fora, também não fará um bom trabalho dentro da empresa", diz o consultor Laerte Cordeiro, 66.
Para aumentar as chances de recolocação, o profissional precisará fazer algumas concessões -como aceitar salários bem mais baixos e cargos inferiores em relação aos que ocupou anteriormente.
"Existe um mito de que abrir um negócio é a solução para os problemas. Se não for um sucesso, a dificuldade de reabsorção é grande, juntando-se a isso o fato de a carreira ter sido interrompida."
Caso o negócio fracasse, o melhor a fazer é tentar sobreviver como empreendedor, tentando outras áreas. "Se não existe espaço nem para os que estão no mercado, o que dizer dos que saíram?"
A consultora Raquel Queiroz, 40, acha difícil um retorno de quem ficou mais de três anos fora. "O profissional estará concorrendo com pessoas competitivas."
A idade é crucial. Até os 30 anos, a recolocação é um pouco mais fácil. "Ele ainda tem muito a oferecer às empresas." Com mais de 40 anos, diz, "já o consideram velho para começar qualquer trabalho".
Simon Franco, 58, afirma que uma microempresa absorve tanto o empreendedor que ele não tem tempo de se manter atualizado.
Mas ele diz que é possível transformar a deficiência em trunfo. "Se ele conseguir convencer que pode ajudar na empresa, o entrevistador pode se impressionar com a fibra e a iniciativa dele."
Ao contrário dos outros consultores, Ricardo de Almeida Prado Xavier, 52, afirma que as empresas valorizam ex-microempresários. "A experiência acumulada vale mais do que o tempo e a idade."

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