São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Chang saca para 'tocar almas infantis'

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A MONTREAL

A estatura pode enganar. Os olhos puxados, também.
Mas Michael Chang, 1,75 m, é norte-americano e ocupa, há três meses, o segundo lugar no ranking do tênis mundial.
Tenista mais jovem a vencer uma partida de torneios de Grand Slam (os quatro mais importantes do mundo), no Aberto dos EUA de 87, aos 15 anos e seis meses, Chang ocupa agora o papel de perseguidor de seu compatriota Pete Sampras, o número um.
No ano passado, chegou perto. Caso vencesse Sampras na final do Aberto dos EUA, seria o novo líder do ranking. Perdeu por 2 sets a 1 e começou uma nova caminhada rumo ao topo da classificação.
Na sacola que leva aos treinamentos, além das raquetes e bolinhas, carrega uma Bíblia.
"Acredito que Deus me deu o talento para jogar. Tenho, portanto, a obrigação de desenvolvê-lo", diz Chang, nascido em Hoboken, Nova Jersey, onde também nasceu o cantor Frank Sinatra.
*
Folha - Você é conhecido por sua religiosidade. Como isso influencia sua carreira?
Michael Chang - Antes de cada jogo, eu e meu irmão Carl, que é meu técnico, rezamos de mãos dadas. Pedimos sucesso a Deus. Deus é nosso primeiro amor e acredito que ele me abençoou com esse talento. Então, tento jogar o melhor que posso. Acredito que tudo tem uma razão de ser.
Folha - Qual religião você segue?
Chang - Eu sou cristão.
Folha - Como é a rotina de treinos do número dois do mundo?
Chang - A duração dos treinos varia muito. No meio de um torneio, por exemplo, treino cerca de uma hora por dia. Fico batendo bola apenas para relaxar. No intervalo entre um torneio e outro, treino quatro, cinco horas por dia.
Folha - Você começou muito cedo. Até que idade quer jogar tênis?
Chang - Não sei. Não há uma idade limite. O Lendl (Ivan, tcheco naturalizado norte-americano) parou no meio dos 30. O Jimmy Connors (norte-americano) joga até hoje... Quando chegar a hora de parar, eu vou saber.
Folha - O que você acha do Gustavo Kuerten?
Chang - É um jogador fora de série. Ele está no circuito há pouco tempo, mas conseguiu resultados impressionantes no Aberto da França. Eu acho que bater Bruguera (Sergi, espanhol), Kafelnikov (Yevgeny, russo) e Muster (Thomas, austríaco), que têm vários títulos nas costas, é impressionante.
Folha - Alguma vez você já conversou com Kuerten?
Chang - Não. Nunca tivemos a chance de conversar. Mas sei que é simpático e bastante simples.
Folha - Você tem uma homepage (http://www.mchang.com) na Internet e sempre gasta muito tempo dando autógrafos. Como é seu relacionamento com os fãs?
Chang - Muito bom. Algo legal é saber que, desde o início de minha carreira, tenho fãs me dando apoio para continuar. A página na Internet foi criada porque eu não tinha tempo para responder a todas as cartas. Agora, os fãs têm uma maneira mais fácil de se comunicar comigo.
Folha - Muitos de seus fãs são crianças...
Chang - (dá uma gargalhada) Acho que é por causa do meu tamanho. As crianças me comparam com outros jogadores, com mais de 1,80 m, e acham que sou uma delas. Então, confiam em mim. Já notei que posso viajar para qualquer lugar do mundo, países com outras culturas e costumes, e, mesmo assim, as crianças são simpáticas comigo. Fico feliz em estar numa posição em que posso tocar suas almas de uma maneira cristã.
Na sociedade atual, é muito fácil desviar do caminho certo. Sei que não vou jogar tênis a vida toda e quero usar esse pequeno período para encorajar essas crianças.
Folha - O que falta para alcançar a liderança do ranking?
Chang - Acho que é algo que vem com o tempo. Sinto que tenho que ser paciente sobre isso. Hoje, reconheço que ainda preciso melhorar em alguns aspectos. Espero conseguir. Se Deus desejar, um dia serei o melhor.

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