São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Moto dá show no país que a 'rejeita'

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre os quase cinco milhões de veículos que circulam na cidade de São Paulo, existem os que pertencem a uma espécie das mais odiadas. A dos motoboys.
E não seria exagero afirmar que motociclismo, para boa parte do público brasileiro, se resume a essa praga do trânsito moderno, jovens que conduzem motos de maneira irresponsável, quebrando espelhos e dando tapas em capô, em nome da velocidade.
Pois hoje, no Rio, também em nome da velocidade, 70 dos melhores pilotos do planeta tentam provar o contrário. Que o motociclismo também é um esporte.
E que merece o espaço e o fanatismo com que é tratado na Europa, EUA, Ásia e Austrália.
Na Espanha, a ponto de relegar a poderosa F-1 a segundo plano. Na Holanda, capaz de reunir 200 mil num único dia de corrida.
Ao todo, uma audiência de 200 milhões de telespectadores, distribuídos por cerca de 100 países.
Números que impressionam, mas que não encontram respaldo algum no Brasil. Na edição do ano passado, apenas 10 mil compareceram às arquibancadas do autódromo de Jacarepaguá.
Para este ano, os organizadores baixaram o preço de forma convincente (de R$ 60 para R$ 5) e acertaram a transmissão da corrida com a TV Globo. Resta esperar.
Pioneiro
Quem tiver mais de 30 anos e forçar a memória lembrará de Adu Celso, um santista que chegou a vencer uma etapa do Mundial, na Espanha, em 1973.
Com poucos campeonatos e a escassez de equipamento provocada pelas restrições às importações da época, o motociclismo de velocidade nacional afundou.
E foi ganhar nova vida apenas 14 anos mais tarde, quando Goiânia montou bom cenário para o primeiro Grande Prêmio no país.
Invadida por milhares de aficionados, a cidade, já na sexta-feira, primeiro dia do evento, padeceu com problemas de abastecimento. Até coca-cola acabou nos bares.
Um sucesso que sustentou a corrida por mais dois anos. O público, no entanto, começou a rarear, efeito da crise econômica, que também afetou o mercado de motos. E a corrida só voltaria a acontecer na temporada de 92.
Em Interlagos, o GP foi um verdadeiro fracasso. O muro da curva que antecede a reta dos boxes apavorou os pilotos, e o evento não atraiu os paulistanos.
Mais dois anos de ausência e o GP voltou ao Brasil, agora no Rio, sob a responsabilidade de promotores internacionais.
Desde então, as arquibancadas não encheram. Mas, sob nova dinâmica de marketing, que privilegia as transmissões de TV, que é o que interessa aos patrocinadores, isso passou a ser mero detalhe.
À cidade, empenhada em revitalizar sua indústria turística, serve como boa estratégia de publicidade internacional (como a Indy).
Justificativas para a prefeitura gastar quase US$ 40 milhões, nos últimos três anos.
E investir também no patrocínio do único representante brasileiro na modalidade, Alexandre Barros -a ponto de, na última quinta, Luiz Paulo Conde prometer pressionar a Honda para a fábrica fornecer melhor equipamento ao piloto na próxima temporada.
O prefeito já prometeu, também, a realização do evento até 2001.
Novo mercado
A estabilização econômica fomentou a venda de motos e os campeonatos voltaram a surgir na esteira do GP do Rio.
Em São Paulo, a Honda se associou a Mobil e criou um torneio monomarca, cujos vencedores foram premiados com convites para a etapa carioca.
Também sob a tutela de patrocinadores, se multiplicam os eventos chamados fora-de-estrada, notadamente o motocross, que também já garantiu uma etapa do Mundial da modalidade.
No Paraná, a federação local anuncia com orgulho a volta de seu certame regional para o próximo fim-de-semana. E lembra que há mais de dez anos não acontece uma corrida de motociclismo de velocidade fora de São Paulo.
Data de 78 a última vez que Curitiba abrigou uma prova dessas.
Plástica
Se de fato existe um renascimento do motociclismo nacional, melhor para o público.
Responsável por cerca de 40% do peso do conjunto, o piloto é obrigado não apenas a usar os comandos com habilidade, como no automobilismo, mas também a jogar o próprio corpo para executar manobras. Nas curvas, o joelho contra o solo serve de apoio e, tanto nas desacelerações quanto nas retomadas, isso provoca a alteração de posição sobre o assento.
Toda essa ginástica, de forte plasticidade nas transmissões de TV, com bons efeitos a partir das câmeras de bordo, requer muito do piloto, que acaba transformando seu equipamento por um melhor rendimento.
Alguns, por exemplo, invertem a direção do câmbio sequencial. Outros optam por freio traseiro acionado pelo polegar.
As disputas são bastante acirradas nas categorias 125 cc e 250 cc. Nas 500 cc, a mais prestigiada, a coisa funciona num ritmo de F-1.

LEIA MAIS sobre o GP do Rio de motociclismo à pág. 4-8

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