São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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EUA fazem ação por abstinência sexual'

The Independent
de Londres

MARY DEJEVSKY
EM WASHINGTON

Já foi tentado com o álcool e as drogas. Agora a tendência proibicionista dos EUA, eternamente vigilante, quer aplicar a mesma técnica ao sexo entre adolescentes. A palavra de ordem é "diga não!". Na sexta-feira, cerca de 800 pessoas, em sua maioria mulheres brancas, se reuniram em Washington para promover sua causa na primeira Cúpula da Abstenção.
Trajando vestidos floridos e "tailleurs" bem comportados, como se nada pudesse estar mais longe de seu pensamento do que o sexo, esses pilares de suas respectivas comunidades se prepararam para absorver dois dias de informações e instruções sobre a devassidão teen. Portavam crachás com nomes americanos típicos, tais como Amy, Abigail ou Peggy, e estavam ansiosas por aprender como transmitir sua mensagem.
Às 9h da manhã da sexta-feira, elas assistiram a um médico apresentar uma série de slides mostrando, em detalhes anatômicos assustadores, os sintomas das DST -doenças sexualmente transmissíveis-, da gravidez ectópica e dos recém-nascidos contaminados pela herpes.
Depois, uma palestra sobre a ineficiência dos preservativos: quantos se rompem ou escorregam, a incompetência de muitos usuários e a má vontade de outros.
Para que a camisinha seja 100% eficaz, argumentou o palestrante, é preciso experiência. Segundo ele, os melhores resultados numa pesquisa sobre eficácia de preservativos havia sido obtido por um grupo de prostitutas de Nevada. As senhoras riram com desdém.
A informação apenas confirmou o que todas já sabiam: que os adolescentes, desajeitados e inexperientes, são as últimas pessoas em quem se pode confiar para fazer bom uso de camisinhas. Em lugar disso, "diga não, simplesmente".
O movimento pela abstinência sexual integra a influente tendência pró-família. Seus defensores sentem que os ventos políticos estão soprando a seu favor. Eles acabam de conseguir US$ 250 milhões do governo federal (a serem pagos ao longo de cinco anos), que serão reservados para campanhas de abstinência sexual, patrocinadas pelo Estado e tendo como público-alvo os adolescentes.
A condição para a aceitação do dinheiro é que ele não deve ser usado para campanhas de educação sexual, nem para campanhas de educação sobre contracepção. Apenas dois Estados se opuseram a essas condições, e agora eles também as aceitaram. O raciocínio é que como poucas coisas funcionaram até hoje, não se perde nada em tentar a abstinência.
Não há dúvida de que os EUA têm um problema. Seu índice de gravidez entre adolescentes, apesar de haver caído em 1995 para 56 em mil, ainda é quase o dobro do índice britânico (32 em mil) e muitas vezes maior do que o dos países escandinavos, onde menos de dez em cada mil adolescentes engravidam. A incidência nos EUA de doenças venéreas também é alta.
Muitas razões são aventadas para explicar esse índice, entre elas a pobreza dos centros de muitas grandes cidades, onde as garotas adolescentes enxergam em um filho uma de suas poucas esperanças de um futuro melhor. Outro fator citado pelos liberais norte-americanos é o moralismo prevalecente, que estigmatiza a educação sexual e o controle de natalidade e trata o aborto como um pecado capital.
Para os defensores da abstinência, a solução é simples: convencer os jovens a evitar o sexo, pura e simplesmente, dizendo "não!".

Tradução de Clara Allain

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