São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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De coração na mão

IZABELA MOI

Infartos e emergências médicas são os maiores responsáveis por mortes em aviões
Em vez de ter medo de cair de avião, as estatísticas mostram que é mais "perigoso" morrer no avião. O número de passageiros de avião que estão morrendo de ataque do coração e de outras emergências médicas durante o vôo é maior do que o número de vítimas de acidentes aéreos.
Números da FAA (Federal Aviation Association) mostram que, a cada ano, há 14 mil emergências médicas nos vôos das nove maiores companhias aéreas dos EUA, responsáveis pelo transporte de 65% do total de passageiros. Isso significa 15 emergências por dia. Entre 86 e 88, eram apenas duas ou três. Na maioria das situações, foi preciso pedir o auxílio de um passageiro que fosse médico. Anualmente, 350 passageiros morrem nos aviões das empresas norte-americanas. Os dados são similares nas empresas de outros países. Entre janeiro e março deste ano, a inglesa British Airways, registrou uma emergência médica para cada 11 mil passageiros transportados.
Na Qantas Airways, australiana, há em média três emergências por semana em seus aviões, e cinco passageiros por ano morrem de ataque cardíaco em seus vôos internacionais, o que corresponde a uma morte a cada 1 milhão de passageiros transportados. De janeiro a julho deste ano, a Varig registrou 31 atendimentos médicos a bordo e dois óbitos.
Eric Donaldson, presidente da Airline Medical Directors Association e gerente geral dos serviços de saúde da Qantas, defende a necessidade dos aviões terem desfibriladores (instrumento que, por meio de de choques elétricos, tenta restabelecer o ritmo de batimento cardíaco do paciente) a bordo. Os 345 chefes de equipe de comissários de vôo da Qantas estão treinados para operá-los. "Nos últimos cinco anos, os desfibriladores foram usados 109 vezes e, em 24 casos, os pacientes restabeleceram o ritmo cardíaco."
Os desfibriladores podem aumentar as chances de um passageiro que sofre um ataque do coração sobreviver. "A 30 mil pés de altitude (cerca de 10 mil metros), se alguém sofre um infarto, são necessários pelo menos 20 minutos para o avião voltar ao portão de embarque. Após 16 minutos, as chances de ressuscitar um paciente vítima de infarto é quase nula", explica Donaldson.
Em 96, um empresário de 37 anos morreu durante um vôo da United Airlines que ia de Boston a Salt Lake City (EUA). O passageiro foi atendido por três médicos, uma enfermeira e um paramédico, que não puderam fazer nada sem o desfibrilador.
A American Airlines, que transporta 80 milhões de passageiros por ano, já tem desfibriladores nos kits de emergência, assim como a Virgin Atlantic inglesa e a Air Zimbabwe. A Cathay Pacific, de Hong Kong, British Airways e Scandinavian Airlines devem adotar a mesma medida.
No Brasil, a Vasp já tem desfibriladores a bordo, mas só podem ser usados se houver um passageiro médico operá-lo. A Varig e a Transbrasil também estão decidindo pelo seu uso dos desfibriladores.
Ninguém sabe por que o número de mortes aumentou, mas existem algumas teorias. Murillo Villela, vice-presidente da Sociedade Ibero-americana de Medicina Aeroespacial e assessor de medicina aeroespacial na Transbrasil, explica que, além do número de passageiros ter aumentado enormemente, há outros fatores. "Os aviões estão voando mais alto, mais rápido e há mais vôos de longa duração", disse Villela. A maior parte dos incidentes ocorrem durante os vôos longos.
Além disso, mais pessoas idosas estão usando o avião como meio de transporte. Alguns médicos discutem que o fato dos passageiros carregarem bagagens muito pesadas antes do vôo, somado à excitação sobre a viagem, pode aumentar os riscos.

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