São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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Black power

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1943, Grande Otelo assombrava o país com sua interpretação de "Moleque Tião". Orson Welles, impressionado, queria levar o ator para Hollywood. Dez anos depois, Ruth de Souza faria "Sinhá Moça" e dividiria com Katherine Hepburn o prêmio de melhor atriz do Festival de Berlim.
Mas tudo isso de nada adiantou: ator negro no Brasil nunca teve chance.
Até a "Escrava Isaura", nosso maior sucesso no exterior, é interpretada por uma atriz branca, Lucélia Santos.
Até bem pouco tempo, negro na TV só fazia bandido, escravo ou empregada. Até que algum gênio de plantão saiu da cidade cenográfica, entrou num cinema e viu Denzel Washington, Will Smith e Whoopi Goldberg. E, com aquela perspicácia que só esse bando de idiotas tem, elaborou a célebre frase: "O que é bom pro americano, é bom para os brasileiros".
Foi assim os atores negros começaram, finalmente, a ganhar o destaque que sempre mereceram mas nunca tiveram no Brasil.
A primeira a botar pé firme para conseguir um bom papel foi Zezé Motta, que só aceitou fazer novela quando lhe deram o papel que ela havia escolhido.
Tempos depois, faria, em "A Próxima Vítima", a mãe de Norton Nascimento e Camila Pitanga. Pronto: a TV descobrira o seu próprio Denzel Washington nesse bom ator, que, atualmente -e infelizmente-, tem de se contentar com um papel em "Malhação".
Aliás, foi em "Malhação" que Camila Pitanga, de tanto alisar o cabelo e de tanto tentarem "embranquecer" sua imagem, acabou se transformando numa espécie de Michael Jackson do horário das seis. Que pena.
Esse preconceito velado, esse disfarce, me lembra quando queriam que Cristina Sano, belíssina atriz nisei, tingisse os cabelos de loiro para um papel secundário, numa novelinha sem graça das sete. Por quê?
Se queriam uma loira, por que chamaram uma japonesa? Por que tirar a beleza negra de Camila Pitanga?
Graças a Deus a TV Manchete teve peito para escalar como protagonista uma atriz novata na sua produção "Xica da Silva". Se, no começo da novela, Taís Araújo estava anos-luz do que se esperava de seu talento, hoje todos tiram o chapéu, inclusive eu, que também a critiquei.
Sua "performance" melhorou sensivelmente. É uma pena que a emissora não tenha percebido a tempo o seu potencial e a tenha deixado escapar para a sua rival, como já fizera antes com Cristiana de Oliveira, Giovanna Gold e tantos outros.
Se criou uma estrela, por que não mantê-la?
Por sorte, a Manchete mantém o contrato de Déo Garces -na minha opinião, um dos melhores atores do momento.
Com sua brilhante criação de personagem, transformou, junto com Guilherme Piva, uma dupla que tinha tudo para ser escorraçada pela crítica numa das melhores parcerias dos últimos tempos na TV.
E aqui vai uma crítica: por que não deram a Déo Garces o próximo papel de protagonista? Não tenho nada contra Victor Wagner, mas já deu para perceber que, após três novelas em sequência, sua estrela continua não brilhando.

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