São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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É preciso se enxergar e depois ir à luta

CÉLIA ALMUDENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Jornalista que vira cirurgião. Arquiteto que ganha a vida como cantor. Administrador que vai trabalhar como comediante. Quem disse que a sua primeira escolha profissional tem de ser decisiva? Se for, melhor, claro.
O fato é que o medo de errar na escolha do curso universitário, que significa a definição do futuro profissional, é uma angústia terrível para boa parte dos jovens.
É importante saber que não existe uma única escolha certa. Veja a imagem que Howard Gardner, 54, psicólogo da Universidade Harvard (EUA), usa para esclarecer a questão: "Todo mundo recebe uma certa mão de cartas, como num jogo de baralho. Você escolhe como vai jogar com essa mão. Há muitas opções, se você as procurar e proceder com otimismo, algo vai dar certo", diz.
Com suas habilidades e características pessoais você pode se dar bem em mais de uma profissão. Tudo depende da forma como você encara a escolha, dos planos que você tem para o seu futuro.
Aí entra uma reflexão que pode ser útil: "O ser humano se caracteriza pela capacidade de ter projetos. A felicidade é a realização desses projetos, e ter um projeto significa fazer escolhas. Na adolescência, o projeto vocacional é o mais importante", diz Nilson José Machado, 50, professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
Mas nem o seu projeto pessoal precisa ser definitivo. Nada impede que você, a qualquer momento da vida, dê uma guinada.
"Apesar de difícil, não é impossível mudar de carreira. As pessoas fazem isso o tempo todo e no futuro farão mais ainda, porque o mercado e as profissões estão mudando muito e rapidamente", diz Gardner. Da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), o vice-diretor José Atílio Vanin, 52, concorda e vai além: "Se você não se encontra muito na graduação, sempre pode fazer mudanças na pós-graduação. E se você sente que fez a escolha errada, não tenha medo de mudar".
Às vezes, a escolha foi errada porque se baseou demais na opinião dos pais ou porque levou em consideração apenas o atual mercado de trabalho.
"O que percebemos é que é cada vez mais complexo escolher porque existem muitas profissões novas. Além disso, o mercado pede uma coisa, e a universidade dá outra", diz Yvette Tiha Lehman, psicóloga que coordena o serviço de orientação profissional da Faculdade de Psicologia da USP.
Tudo isso não quer dizer que é impossível acertar de cara -optar logo por uma profissão e conseguir a realização. Mas uma escolha bem-feita é resultado de um longo processo, que começa com o autoconhecimento.
"É difícil assumir e ter coragem de ser você mesmo. Mas é preciso se conhecer e informar-se sobre a realidade da profissão. Mas também é preciso sonhar, porque com competência e paixão você ganha espaço em qualquer profissão", diz Maria Alice Leonardi, 59, coordenadora de projetos da Colméia, instituição paulistana que oferece orientação profissional.

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