São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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A mídia contra o próprio arbítrio

LUÍS NASSIF

As reações contrárias suscitadas na imprensa, a respeito das acusações contra o professor Leonardo de Castro -incriminado como autor da explosão no avião da TAM, a partir de indícios não conclusivos-, são provas do início de mudanças significativas nos valores da mídia.
Os indícios colhidos contra o professor são mais concretos do que aqueles que serviram de base para todos os linchamentos anteriores. Mas não são definitivos. Esse fato foi suficiente para que muitas vozes se levantassem indignadas contra as conclusões taxativas, apresentadas pela polícia e por outros jornalistas.
O professor Richard Pedicini -ele próprio vítima de linchamento moral no episódio da Escola Base- escreveu para a Folha artigo definitivo sobre a questão. Depois de relacionar todas as inconsistências do noticiário, Pedicini admite que até pode ser que o professor venha a ser considerado culpado. Mas, com base nas informações existentes até então, jamais poderia ter sido exposto como o foi.
Fim do corporativismo
O dado relevante é que gradativamente rompe-se o pacto corporativo de mútua proteção, que permitia toda sorte de abusos, especialmente contra os indefesos. Matar uma reputação era atividade sem risco e sem desdobramentos, banalizada como um jornal velho. Hoje, começa a não mais ser. O jornalista que incorre nessas leviandades começa a ser malvisto. Os abusos passaram a incomodar a categoria. Não são mais tratados como questão individual de cada jornalista, mas como ameaça concreta à imagem de todos o setor.
A consolidação desses novos (embora eternos) valores na cultura jornalística é a maior garantia de um jornalismo futuro mais ético, mais profissional e com maior qualidade.
São Paulo
Não será surpresa se, nos próximos meses, o governo Mário Covas, em São Paulo, despontar como o autor da primeira reforma administrativa consistente no país.
Cautelosa e lentamente, já existe um conjunto de iniciativas apreciáveis, compondo um avanço relevante, que agora começa a tomar forma. A saber:
1) privatização do setor elétrico, sem descuidar da coordenação e das formas de regulação geral. Na Secretaria de Energia;
2) privatização das concessões rodoviárias do Estado. Depois de um início lento, é possível que o processo tome fôlego nos próximos meses. Na Secretaria dos Transportes;
3) desmobilização de ativos, dos quais o mais relevante é o Banespa;
4) redução sensível na relação folha salarial/arrecadação. Nas secretarias da Fazenda e Planejamento;
5) projeto de reforma radical nos institutos de pesquisa, visando integrá-los à comunidade. Nas Secretaria de Ciência e Tecnologia;
6) criação das Agências de Desenvolvimento Local, visando conferir instrumentos para cada cidade buscar seu projeto de desenvolvimento. Na SCT;
7) projeto radical de mudança nas PMs. Preparada pela Secretaria de Segurança.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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