São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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Zukerman rege hoje English Chamber

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

Pinchas Zukerman toca e rege, hoje, um repertório instigante que, no entanto, não mostra duas de suas mais preciosas facetas. Não há nenhuma peça contemporânea nem obras para viola solo.
Zukerman executa com a English Chamber Orchestra o concerto para violino "Il Sospetto", do compositor barroco italiano Antonio Vivaldi, a "Sinfonia nº 92 Oxford", de Joseph Haydn, e o concerto para violino "Opus 61", de Ludwig van Beethoven.
No concerto de Vivaldi, a orquestra de câmara britânica estará no ambiente para o qual foi criada nos anos 50. Sem uma preocupação rigorosamente historicista, o grupo de poucos e bons instrumentistas soa como uma reunião de solistas. O que é bem o espírito das composições barrocas mesmo para grandes grupos.
O destaque óbvio do programa é o concerto de Beethoven. Tanto pelo próprio concerto como pela oportunidade de vê-lo executado com um grupo pequeno.
Em Beethoven, o caráter menos contrapontístico e a instrumentação articulada em blocos exigem muito vigor de uma orquestra de câmara para soar como deve.
Como solista, Zukerman tem em Beethoven alguns de seus melhores momentos em gravações de concertos e sonatas.
Ouvir Haydn é uma oportunidade rara no Brasil e é preciso contar com maestros coerentes, como Zukerman, para que isso aconteça. Outros regentes trariam o indefectível Tchaikovski ou outra coisa considerada de mais fácil digestão.
Haydn é um gigante de quem mais se fala do que se toca. A ponto de estar ocorrendo em Nova York um festival de redescoberta do compositor austríaco que "inventou" a sinfonia, a sonata e o quarteto de cordas.
Ter que redescobrir o pai da música clássica, a mais bem sucedida construção intelectual da história da música e, possivelmente, a mais valiosa contribuição intelectual do século 18, não é um elogio à nossa época.
É pena que Zukerman não toque hoje nada para viola. O instrumento vive um círculo vicioso de não ter repertório por ter poucos solistas e ter poucos solistas porque tem pouco repertório. O israelense Zukerman é um dos grandes nomes do instrumento.
Também poderia ter sido incluída alguma peça contemporânea, repertório em que Zukerman sempre militou com eficácia, tanto como instrumentista quanto como regente. Foi ele próprio o responsável por incluir o século 20 no horizonte da English Chamber Orchestra.
Enfim, Zukerman é um dos maiores músicos da atualidade e sempre se poderá lamentar que ele não esteja executando tal ou qual repertório. Ele passeia com desenvoltura e inteligência por quase toda a paisagem musical.

Espetáculo: Pinchas Zukerman e English Chamber Orchestra
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 258-3616)
Quando: hoje, às 21h Preço: de R$ 40 a R$ 70

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