São Paulo, quarta-feira, 6 de agosto de 1997
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Fiéis fazem caravana por padre de sandália

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A transferência do padre José Osmar de Medeiros revoltou fiéis do bairro do Rocha (São Gonçalo, a 20 km do Rio), que decidiram protestar contra a decisão do arcebispo de Niterói, Carlos Alberto Navarro.
Por causa do afastamento do padre Dedé (como Medeiros é conhecido em São Gonçalo), uma caravana com cerca de 300 fiéis partiu do bairro ontem de manhã, rumo a Niterói (a 15 km do Rio).
Antes de seguirem para a sede da arquidiocese, eles meditaram em uma praia de Niterói. Ajoelhados, pediram a Deus para que o arcebispo reconsidere sua decisão.
Após a meditação, os manifestantes foram até a porta da arquidiocese, onde, de modo irônico, realizaram uma sessão de aplausos. O arcebispo não estava no prédio, segundo funcionários.
À Folha, padre Dedé disse que espera ter a oportunidade de pedir desculpas ao arcebispo. Um encontro entre os dois ainda não foi marcado. O arcebispo não quis falar à Folha.
No meio católico, a transferência do padre para a paróquia de Saquarema (cidade a 100 km do Rio) é creditada a um par de sandálias franciscanas.
Na terça-feira da semana passada, durante retiro religioso, o padre celebrou missa calçado com as sandálias.
O arcebispo achou que o padre deveria estar calçado com sapatos. Advertido, padre Dedé abandonou o retiro.
"Fui cabeçudo, imprudente. Não tive paciência para conversar. Fui jovem. Errei bastante. Deveria ter sido mais humilde, mais simples. Gostaria de ter uma conversa com o arcebispo, para me redimir", disse padre Dedé, 35.
No bairro do Rocha, padre Dedé é adorado. Dezenas de religiosas estiveram ontem de manhã na paróquia de São Judas Tadeu, dirigida pelo padre.
"A igreja estava abandonada, em ruínas. Ele recuperou tudo, renovou a igreja e a comunidade", disse a dona-de-casa Terezinha Menezes.
Há dois anos e meio no bairro do Rocha, padre Dedé é tido na arquidiocese como esquerdista.
Ele já trabalhou no interior do Rio Grande do Norte e em Silva Jardim (município a 100 km do Rio), onde apoiou a ação dos sem-terra.
Na paróquia do Rocha, o padre desenvolveu grupos teatrais e musicais, além de criar um posto de saúde comunitário que atende a cerca de 300 pessoas por mês.
As missas rezadas por ele passaram a ser tão frequentadas que a igreja se tornou pequena para abrigar os fiéis. Uma vez a cada dois meses, o padre celebra a missa na praça do bairro, reunindo até 5.000 fiéis.

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