São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Líder dos sem-teto planeja invadir escolas

MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Os sem-teto de São Paulo ameaçam invadir escolas estaduais vazias se o governo do Estado não definir, nos próximos dias, uma política habitacional para moradores de cortiços e favelas.
O coordenador de comunicação da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bonfim, disse ontem que sua central deve se reunir com outras entidades ligadas à moradia em São Paulo para definir uma estratégia para essas invasões.
"Se não tivermos propostas concretas para os problemas de moradia de São Paulo, nossos próximos alvos de ocupação serão as escolas vazias da capital", disse.
A proposta de Bonfim é semelhante à feita pelo líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stedile, na semana passada. Ele defendeu a ocupação de escolas desocupadas. "Não podemos deixar que escolas fiquem fechadas por falta de competência dos governantes", disse Stedile.
Existem na cidade de São Paulo 23 escolas fechadas. Segundo Bonfim, os movimentos de moradia vão fazer um levantamento de quais escolas estão vazias para definir a estratégia de ocupação.
O líder dos sem-teto nega que os movimentos de moradia tenham se inspirado nas declarações de Stedile para criar a nova estratégia de ação.
"Quem acolheu o conselho do Stedile foi o governador Covas, que alojou os sem-teto numa escola desocupada", disse Bonfim. "Aquilo que o João Pedro falou nós agora vamos colocar em prática."
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Habitação, haverá uma reunião hoje pela manhã com representantes de vários setores do governo do Estado para discutir uma política habitacional a fim de solucionar os problemas dos sem-teto.
Anteontem, encortiçados que há 54 dias invadiram um prédio da Secretaria do Estado da Fazenda no centro de São Paulo aceitaram proposta do governo e deixaram o prédio para se alojar numa escola estadual até que haja uma solução para o caso.
A escola ocupada, a Professora Francisca Teixeira Camargo, na Penha (zona leste de SP), foi desativada desde o ano passado.
Para Bonfim, as escolas que ficaram vazias com a reorganização do ensino no Estado deveriam servir as comunidades locais. "Por que não fazer, nessas escolas, centros recreativos e abrigos para a população sem teto?", disse.
Bonfim ironizou o fato de as escolas estarem "mudando de função". "Nesse país, com tantos analfabetos, as escolas já servem de abrigo quando acontecem enchentes, desabamentos ou alguma tragédia. Já que estão vazias, vamos ocupá-las de vez."

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