São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Os cegonheiros e a cabotagem

LUÍS NASSIF

Nessa enorme e prolongada batalha pela modernização e desburocratização do país, um dos temas mais insólitos, nos últimos tempos, tem sido a questão dos cegonheiros e da navegação de cabotagem.
Cegonheiro é o transportador de automóveis, que serve à indústria automobilística. Quem paga o frete é o consumidor final. O comprador nordestino, em média, paga um acréscimo de R$ 1.000 por carro.
Semanas atrás, a Fiat começou a operar com cabotagem para o Nordeste -cerca de 800 carros por semana, transportados por navios. As demais montadoras deveriam seguir o mesmo caminho. De imediato, só no caso Fiat, significou redução de 10% no custo do frete, e economia de cem carretas semanais, que deixaram de consumir combustível e atravancar as estradas. Além da redução do preço para o consumidor nordestino.
O governo de Pernambuco duplicou o porto de Suape para receber os navios. De lá, haverá a distribuição da carga para cinco Estados nordestinos, a uma distância máxima de mil quilômetros.
Quando a nova lei de cabotagem for aprovada, e houver possibilidade do retorno dos navios com cargas, é possível que o custo do frete caia pela metade.
A lógica é que os cegonheiros vão operar em maior volume com a ampliação do mercado, mas em distâncias menores, do porto às cidades que compõem o seu entorno.
A reação dos cegonheiros (donos de caminhão) foi um locaute nacional. Não queriam nem aumento de frete, mas apenas impedir a ampliação da cabotagem. Com a pressão, conseguiram que Volkswagen, Ford e General Motors reduzissem o transporte de cabotagem para 400 veículos semanais.
Para as montadoras, tudo bem, porque quem paga é o cliente. Mas é um enorme retrocesso em termos de direitos dos consumidores, de combate às corporações e redução do "custo Brasil".
Os cegonheiros comportam-se como a corporação típica que, estando diante de mudanças inevitáveis, tentam conservar a ferro e fogo o antigo status quo.
Melhor fariam entendendo, se adaptando e defendendo seus interesses dentro das regras dos novos tempos.
Ferronorte
Ontem foi fechado o acordo de acionistas visando a exploração da Ferronorte. Sócios americanos, fundos de pensão e o grupo Itamaraty acertaram as regras do jogo, em um documento extremamente minucioso -mas que marca a entrada definitiva dos fundos de pensão no setor de infra-estrutura.
Reivindicação baiana
Recebo do assessor-geral do governo da Bahia, Fernando Vita, fax no qual contesta primazia que a coluna de ontem deu ao governo paulista, de iniciador da primeira reforma administrativa ampla estadual.
Vita cita avanços que já teriam ocorrido no seu Estado.
1) Reforma administrativa, com redução do número de secretarias, extinção de órgãos, eliminação de supersalários e fixação de tetos reais de vencimentos para dirigentes da administração pública -definidos no governo Antonio Carlos Magalhães, em 1991.
2) Saneamento das contas estaduais, permitindo colocar pagamentos em dia e tendo acesso a financiamentos internacionais da ordem de R$ 1,9 bilhão.
3) Privatização do setor elétrico, inclusive obtendo o preço recorde de R$ 1,73 bilhão pela Coelba, no governo Paulo Souto.
4) Anúncio da privatização da Bahiagás, distribuidora de gás, e das rodovias que margeiam o litoral norte, além da licitação para as concessões das rodovias federais.
5) Transformação do Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Desenbanco) em grande agência de desenvolvimento, e encaminhamento dos estudos para a privatização do Banco do Estado da Bahia.
6) Estímulo à criação de pólos regionais de desenvolvimento.
7) Criação do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), magazine instalado em pontos de grande movimentação popular, que fornecem todos os documentos e serviços federal, estadual e municipal na hora.
E-mail: lnassif@uol.com.br

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