São Paulo, quinta-feira, 7 de agosto de 1997
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Gramado abre amanhã à procura de perfil

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Festival de Gramado -Cinema Latino e Brasileiro- inaugura amanhã sua 25ª edição. O variado e irregular programa confirma: depois da internacionalização forçada pela crise do cinema brasileiro pós-Enbrafilme, o evento continua à procura de um perfil.
A outrora capital dos lançamentos da safra anual brasileira suou para reunir os seis longas nacionais da competição específica.
Nem mesmo os dois novíssimos longas gaúchos ("Anahy de las Misiones", de Sérgio Silva, e "Lua de Outubro", de Henrique de Freitas Lima) -um raro feito num mesmo ano- ousaram concorrer, sendo exibidos respectivamente no encerramento e na abertura do festival.
O fato é que, mesmo no âmbito nacional, competir em Gramado parece ter perdido muito de seu velho encanto.
Não que faltem atrações entre os concorrentes.
As principais são os dois grandes inéditos, "For All, o Trampolim da Vitória", de Luis Carlos Lacerda e Buza Ferraz, sobre a presença americana em Natal (RN) durante a Segunda Guerra, e "Os Matadores", policial passado na fronteira com o Paraguai que lança em longas o premiado Beto Brant ("Dové Meneghetti").
Por sua vez, a competição específica para longas de origem "latina" usa a classificação com generosidade, pois reúne somente produções ibero-americanas.
São nove concorrentes, todos tendo em Gramado não a primeira, mas sim apenas mais uma vitrine no circuito internacional.
Enfoque latino O peruano "Bajo la Piel", um policial temperado por mitos pré-colombianos, chega com a reputação mais forte.
O enfoque latino justifica-se apenas se for analisada a seleção internacional como um todo, incluindo-se os filmes fora de competição.
O leque de nacionalidades amplia-se com França e Itália, representados por títulos de impacto.
"Um Herói Muito Discreto", de Jacques Audiard, levou o prêmio de roteiro no Festival de Cannes de 95 pela saga de um oportunista (interpretado por Mathieu Kassovitz) que se faz passar por membro da Resistência.
Já "Prima della Rivoluzione" (1963), o filme que lançou internacionalmente ninguém menos que Bernardo Bertolucci, chega em cópia nova.
Ainda assim, um título fora de concurso acaba extravazando os limites latinos.
Baseado na clássica novela "Grande Hotel", de Vicki Baum, "Hotel Shangai", de Peter Patzak, desembarca em Gramado na noite de encerramento sob nada menos que quatro bandeiras (Alemanha, China, França e Inglaterra).
Traz um produtor de cacife, Manfred Durniok ("Mephisto", de Szabó), interessado em rodar no sul do país, e a maior estrela do festival, o americano Elliott Gould ("MASH"). Oficialmente, basta para justificar a exceção.
Até na política para os curtas-metragens Gramado oscila na edição de seu jubileu de prata.
A unificação teórica das disputas de curtas 35 mm e 16 mm resultou concretamente na exclusão dos últimos. A fórmula já foi descartada para 98.
Menos mal, a disputa deste ano recupera alguns pontos de qualidade perdidos nos anteriores, ainda que certamente alguns fracos selecionados poderiam ter cedido a vaga para destaques da atual safra de 16 mm.

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