São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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Integrante do Kirov dança por R$ 86,33

Contrato indica subfaturamento

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O Balé Kirov, um dos mais afamados do mundo, veio ao Brasil a preço de banana.
Pelo menos é isso o que se deduz do contrato obtido pela Folha, firmado entre a produtora Dell'Arte e a companhia russa -que se apresentou no Brasil no final do ano passado como parte da primeira turnê do grupo pela América do Sul.
O Balé Kirov, que tem mais de 250 anos de existência, foi onde atuaram alguns dos mais importantes bailarinos do século, como Rudolf Nureyev e Mikhail Baryshnikov.
Pelo contrato, a mítica companhia receberia R$ 12 mil por cada uma das dez apresentações programadas.
O Balé Kirov veio ao Brasil com 139 pessoas -sendo 92 bailarinos. O cachê, dividido pelos integrantes do balé, daria a cada um R$ 86,33.
Se a quantia fosse dividida apenas pelos bailarinos -e maestro, diretores e pessoal de apoio não recebessem um centavo- o valor seria de R$ 130,43.
Cachês extras
O grupo de balé se apresentou em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Brasília.
Se fosse acordada a realização de espetáculos extras, o cachê adicional seria ainda menor: de R$ 10 mil.
Pelo valor do cachê do espetáculo adicional, a remuneração dos integrantes do Balé Kirov seria ainda menor: R$ 71,94.
Em São Paulo, em compensação, o preço dos ingressos para as apresentações do grupo não era dos mais baratos -variava entre R$ 55 e R$ 180.
No Brasil, o Kirov apresentou peças clássicas do repertório do grupo, como "O Lago dos Cisnes" e "Don Quixote".
Durante a turnê do grupo, a produtora Dell'Arte anunciou a possibilidade do grupo voltar a se apresentar no Brasil em 1998.
Procurados pela Folha, diretores da Dell'Arte não foram encontrados. Também não retornaram as ligações.
Multa
Conforme a Folha revelou, a Receita Federal está investigando os contratos de shows internacionais ocorridos no Brasil.
Recentemente, o fisco multou em R$ 280 mil uma das produtoras, a Dell'Arte, a mais importante organizadora de espetáculos de música clássica.
A empresa foi autuada por "omissão fiscal" relacionada à apresentação do cantor lírico espanhol José Carreras na festa de centenário do teatro Amazonas, em Manaus, no ano passado.
Além disso, a Receita considera que os contratos obtidos pela Folha -entre eles o do Kiss, o do Rolling Stones e o do Deep Purple- apresentam "valores inexpressivos" e têm "indícios de subfaturamento".
Para a Receita Federal, o setor de jogos e diversão, como o de shows, pode servir para lavagem de dinheiro.

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