São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997 |
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Igrejas disputam 'guerra santa' por TVs
ELVIRA LOBATO
A Assembléia de Deus, maior igreja evangélica do país, fez chegar ao ministro Sérgio Motta (Comunicações) o desejo de montar um canal nacional de TV com programação gerada em São Paulo. A Igreja Católica, que desde a década de 50 concentrava seu poder de fogo em rádios, reverteu a estratégia e as dioceses se mobilizam para financiar a implantação da Rede Vida para colocar seu sinal no ar em todas as capitais até outubro. O objetivo é transmitir ao vivo a vista do papa João Paulo 2º. Igrejas mais jovens, como a Renascer em Cristo, que inaugurou um canal de TV em UHF em São Paulo no final de 96, crescem com o uso da mídia eletrônica. Quem não dispõe de recursos para montar uma geradora própria recorre à transmissão direta via satélite para chegar a 5 milhões de parabólicas em todo o país. O bispo Edir Macedo, fundador da Universal, tem 18 emissoras geradoras de TV, das 259 do país -1 em cada 14 concessões. E dá sinais de que não vai parar tão cedo. Membros da cúpula da Universal confirmam que se preparam para montar uma segunda rede -a TV Família-, só com programação religiosa, nos moldes da Rede Vida, da Igreja Católica. Com isso, a Record ficará liberada da programação religiosa (que será restrita à madrugada) para disputar o mercado comercial com as demais emissoras. O canal religioso da Universal vai copiar até a estrutura da TV católica. A Rede Vida, construída a partir de uma pequena geradora -TV Independência, de São José do Rio Preto (SP)-, vai se tornar nacional com a instalação de retransmissoras em todo o país, financiadas pelas dioceses. Oficialmente, a Rede Vida não pertence à Igreja Católica, assim como não há vínculo das 18 emissoras da Record com a Universal -as concessões estão em nome de empresas criadas por bispos e parlamentares ligados a Edir Macedo. O único vínculo formal entre a Igreja Católica e a Rede Vida é um contrato assinado entre o Inbrac (Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã) e João Monteiro Barros Filho, diretor da Rede Vida, onde ele e seus descendentes se comprometem a não vender a emissora. Amparadas nesse contrato, as dioceses vão investir cerca de R$ 50 milhões para instalar as antenas retransmissoras. Segundo Monteiro, o ministério já autorizou 310 retransmissoras para a Rede Vida e outras 146 estão em análise. Um dos principais dirigentes da Universal disse à Folha que a nova rede será financiada pelos seus 25 bispados, como na Rede Vida. O dirigente, que prefere não ser identificado, diz que a programação religiosa dificulta a conquista de afiliadas para a Record, pois não atrai anúncios. "Estamos entre a cruz e a espada. Como não podemos comprar todas as TVs brasileiras, a saída é montar uma outra rede só para religião", disse. A Universal reina absoluta na guerra eletrônica e a cada dia cresce o império de Edir Macedo. Só neste ano, comprou as TVs Itapuã (BA) e Norte Fluminense (RJ). A primeira teria custado R$ 30 milhões. A segunda, R$ 4 milhões. A Igreja Assembléia de Deus, com duas geradoras de TV (em Belém e em Manaus) e um canal via satélite (Jesus Sat), que pode ser captado por parabólicas, ambiciona um canal em rede nacional. O pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus, diz que foi a Brasília "pessoalmente levar o pedido". A igreja também negocia a compra do canal da Manchete em Brasília. Costa diz que sua igreja tem 130 mil templos e 20 milhões de fiéis no Brasil. E explica por que quer uma TV nacional: "Com a mídia, vamos mais longe e mais rápido". O satélite, por outro lado, tornou-se a grande opção das igrejas que não dispõem de recursos para comprar uma geradora de TV, com a vantagem de que alcançam 5 milhões de famílias em todo o país. É o caso do movimento Renovação Carismática, da Igreja Católica, que em maio lançou canal próprio via satélite, e da Igreja Adventista do 7º Dia, que ainda quer conseguir um canal nas TVs a cabo. Texto Anterior: As diferentes propostas para a polícia Próximo Texto: O império de comunicação das igrejas Índice |
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