São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Técnico 'CDF' grita para alcançar sucesso

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A CINCINNATI

Larri Passos chega às arquibancadas e procura o mesmo lugar em que se sentou no último jogo.
Acomoda-se, tira o agasalho, arregaça as mangas da camiseta para aliviar o calor de mais de 30°C e começa a trabalhar.
Durante a partida, grita, impacienta-se, pede para atacar, para tomar cuidado com a direita, para soltar o braço no saque.
A cena aconteceu na última quinta-feira, durante o jogo entre Gustavo Kuerten e o norte-americano Vincent Spadea.
Poderia, no entanto, ter ocorrido em Santa Catarina, envolvendo tenistas menos badalados.
"Não interessa quem estou treinando. Procuro não mudar meu trabalho", diz Passos, gaúcho de Novo Hamburgo, 39 anos.
Seu método de treinamento vem chamando cada vez mais a atenção dos profissionais envolvidos no circuito da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).
Hoje mais ocupado com Gustavo Kuerten, fenômeno brasileiro do tênis, tem pouco tempo para Márcio Carlsson e Ricardo Schlachter.
Método
O "método Larri Passos" de treinamento inclui cuidados com alimentação, horários rígidos, obediência e bom humor.
"As piadas, muitas vezes, são usadas para passar algo positivo ao jogador", afirma Passos.
Para ele, o estado psicológico de um atleta é tão importante quanto sua forma física e técnica. Por isso, procura passar o maior tempo possível com os jogadores.
Durante uma viagem ao exterior, como a que agora faz com Kuerten, divide o quarto com o tenista.
"Escutamos música, vemos filmes, brincamos um pouco. É a melhor coisa para espantar a solidão que às vezes aparece."
Apesar das brincadeiras, se define como um técnico linha-dura.
"Treinador bonzinho não leva tenista a lugar nenhum. Sou um CDF da quadra. Procuro dar o exemplo para ter moral de exigir esforço do jogador", declara.
Dormir tarde, nem pensar. O horário limite para seus jogadores, em vésperas de jogos, é 23h30.
Quando a partida é marcada para a manhã, acorda o tenista três horas antes. "Sempre achei que esse era o tempo ideal para que o cara acordasse, ficasse alerta."
Na rotina de uma excursão, proíbe que seu jogador coma carne vermelha a partir de três dias da estréia em um torneio.
Durante uma competição, frango, peixe e massa são ideais.
Uma cervejinha, só de vez em quando. Segundo ele, um tenista pode beber "no máximo dois copos, só de vez em quando."
"Mas o Guga, por exemplo, nem gosta de cerveja", diz.
Toda sua metodologia é baseada no risco. Segundo ele, treinador de tênis precisa arriscar "o tempo todo" para obter sucesso.
"O Guga, por exemplo, levei para a Europa aos 16 anos. Sabia que ele ainda não estava pronto, mas precisava treinar e disputar torneios com jogadores fortes."
Sua última ação com o jogador antes de uma partida resume-se a um forte aperto de mão e a uma palavra de ordem.
Depois, só pode caminhar para a arquibancada, atrás do mesmo lugar em que esteve no último jogo.

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