São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997 |
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O empresário Pelé
JUCA KFOURI Não tenho procuração para defender Pelé. Nem acho que ele precise de defesa. Mas vou fazê-lo, novamente, aqui.Divirjo dele numa série de atitudes. E acho-o muitas vezes tímido na briga por suas posições, como se não tivesse consciência de seu prestígio. Mas, muito antes de ser ministro, Pelé já tinha sua empresa. Depois, deveria fechá-la ou apenas se afastar, como fez? Empresa sem disfarces, que começa por ter seu nome, com todas as quatro letras que fazem a marca mais conhecida do mundo. Não é assim, por exemplo, que age a maioria dos cartolas, que usam testas-de-ferro para não aparecer nas empresas que controlam. Pelé denunciou sim, em entrevista dada a mim quando diretor de "Playboy", corrupção na CBF -um pedido de dinheiro por fora para que sua empresa tivesse os direitos do Campeonato Brasileiro. Deveria calar? Ninguém, vou repetir, ninguém, que negocia com a CBF desconhece essa prática. Se todos calam, é apenas por conveniência e, admito, Pelé pode até ter falado também por conveniência, embora me tenha passado mais a sensação de indignação. É pueril o argumento de que Pelé se empenha para aprovar seu projeto simplesmente porque isso poderia vir a beneficiar seus negócios, embora, de fato, a transparência e honestidade beneficiem mesmo quem trabalha dessa forma, transparente e honestamente. Mas o que tenho visto desde que Pelé é ministro aponta noutra direção. Só o vejo perder dinheiro, recusando inúmeras campanhas de publicidade no Brasil, exatamente como combinou, circunstancialmente com meu testemunho, com FHC. Ingênuo imaginar que se Pelé quisesse dominar o negócio do futebol no Brasil ele não conseguiria. Bastaria se associar ao grupo Havelange -Rico Terra incluído. Seria tudo, aliás, que ex-sogro e ex-genro desejariam, selando a bandeira verde (dos dólares) da paz. Mas o problema é que Pelé tem princípios, coisa difícil de acreditar no Brasil. E uma intuição fabulosa para ficar geralmente do lado certo. Erra como todo mundo, é redundante dizer, às vezes gravemente, mas, se ainda há cidadãos de boas intenções, Pelé é um deles. Que pode até perder mais uma, sempre pelos bons, nunca pelos maus motivos. Texto Anterior: 1; 16; 17; 1.395 Próximo Texto: Zagallo põe à prova seleção de 'bons moços' na Ásia Índice |
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