São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Corredor de ônibus deprecia imóvel

DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo promete começar as obras de cinco novos corredores de ônibus até o final do ano -um bom motivo para os moradores e proprietários de imóveis das regiões próximas ficarem de "orelha em pé".
Segundo João Freira D'Avila, 39, da Amaral D'Avila Engenharia de Avaliações, os imóveis vizinhos ao corredor Santo Amaro (zona sul de São Paulo) perderam, em média, 30% de seu valor de mercado devido ao intenso tráfego de ônibus na região.
Os novos trechos são os de Pirituba, São João, Guarapiranga, Rio Bonito e Estrada de Itapecerica.
Os vizinhos dos corredores acabam pagando o preço pela suposta melhora no sistema de tráfego. "Aumenta o barulho e a poluição", resume o professor de análise de ambientes da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), Wolker Link, 55.
Segundo Lincoln Jorge Marques, consultor de imóveis, as moradias localizadas num raio de 200 m são as mais atingidas. "Mas depende do bairro. Há locais que absorvem bem um corredor."
O corredor Santo Amaro é um bom exemplo de como uma obra desse tipo pode complicar a vida dos moradores da região. "Os imóveis em vários pontos estão necrosados, mortos", diz D'Avila.
Na região de Santo Amaro, nem os imóveis comerciais -costumeiramente beneficiados pelo aumento de trânsito- foram poupados. Nesses locais, as unidades comerciais normalmente ocupam o lugar dos imóveis residenciais.
Estacionamento
O comerciante Ulisses Martins, 61, que abriu uma lanchonete há seis meses na av. Santo Amaro, já vai fechar o negócio. "Minha freguesia é prejudicada porque não dá para parar o carro perto da minha lanchonete", reclama.
Na mesma quadra, há outros três imóveis comerciais para alugar. A área abriga uma boa proporção dos imóveis vagos de São Paulo.
Segundo a Aabic (Associação das Empresas de Administração de Bens Imóveis e Condomínios), a região de Santo Amaro tem cerca de 180 imóveis residenciais à venda -1,55% das 10.800 unidades disponíveis em julho.
Já o Brás (região central), por onde passa o corredor de ônibus da av. Celso Garcia (que liga a zona leste ao Centro), o número cai para 53 (0,49% do total). Um dos corredores mais antigos da cidade, a região solidificou um perfil de ocupação comercial.
Extremos
Há regiões que convivem bem com os corredores de ônibus. Freire D'Avila cita o da av. Paes de Barros, na zona leste da cidade, onde o volume e as condições de tráfego não causaram impacto tão negativo na região.
O professor Wolker Link diz que existem algumas regras básicas para a existência de um corredor. Exemplo: exclusividade de fato para ônibus (nos casos em que a convivência com os carros causar embaraços no tráfego).
"Em casos de gargalo, tira-se o transporte particular. A Santo Amaro ficou em muitos pontos uma avenida estreita demais."
O resultado do impacto negativo pode ser constatado na profusão de imóveis para alugar ou vender, boa parte deles em mau estado de conservação, e no desejo de muitos moradores de deixar a região.

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