São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Feminino também quer um Kuerten

FERNANDA PAPA
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto Gustavo Kuerten alcançava seu primeiro US$ 1 milhão em premiação de torneios, na semana passada, Vanessa Menga se preocupava, em Jundiaí, com o patrocínio -que não tem- para pagar seus treinos, com Carlos Kirmayr, no Rio de Janeiro.
Kuerten, 20, é o primeiro tenista do país e provavelmente, a partir de hoje, o nono do mundo. Menga, 20, é a número 1 do Brasil e 323ª do ranking da WTA, o equivalente feminino da ATP.
Depois dela, Andréa Vieira Arnold, 26, que não joga mais o circuito profissional, é a 334ª, Miriam D'Agostini, 18, é a 366ª, e a campeã brasileira Eugênia Maia, 23, ocupa a 398ª colocação.
"O Guga é do outro mundo", diz Maia, admitindo que a diferença entre tênis profissional masculino e feminino no Brasil é grande.
As garotas acham que o problema não é falta de talento, mas de dinheiro para viajar, o que as impede de jogar torneios e acumular pontos para subir no ranking.
Menga, que jogou duplas na Olimpíada de Atlanta-96 ao lado de D'Agostini, esteve em sete torneios no primeiro semestre, quando o ideal seria ter jogado 15.
"Não sei quanto ganhei até hoje, mas tudo o que recebi investi na carreira e gastei quatro vezes mais -do bolso do meu pai", conta a tenista.
Entre as 400 tenistas do mundo, as brasileiras jogam normalmente competições com US$ 10 mil de premiação total, o que dá à campeã apenas US$ 1.500.
Com o título de Roland Garros, Gustavo Kuerten recebeu US$ 678 mil, só em prêmios e já com descontos de imposto.
Andréa Vieira Arnold, que esteve entre as 80 do mundo em 1989, diz que dos US$ 150 mil que recebeu em prêmios na carreira de dez anos, só conseguiu guardar o suficiente para comprar um carro.
Dadá, como Vieira é conhecida, e seu marido Patricio Arnold, argentino e ex-tenista profissional, treinam atualmente a gaúcha Miriam D'Agostini, que foi uma das cinco melhores juvenis do mundo, aos 15 anos.
Na época, ela enfrentava tenistas como a suíça Martina Hingis, líder do ranking mundial, e a promissora russa Anna Kournikova.
"Tentamos dar a ela um apoio que eu não tive", diz Dadá.
D'Agostini acha que o problema das brasileiras chega a ser cultural. "Somos mais ligadas à família do que as européias e americanas", diz a gaúcha, que quer voltar a ficar entre as 200 tenistas do mundo até o fim da temporada.
"Mas o fundamental aqui é a falta de uma grande jogadora, quando alguém começar a ir bem, vai a puxar as outras. Só que com uma número um pior do que a 300 do mundo, quem vai acreditar no tênis feminino?", pergunta.

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