São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Offspring quer fazer as pessoas pensarem

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A banda californiana Offspring faz hoje, em São Paulo, seu primeiro show no Brasil. No cardápio, o punk rock rápido dos discos "Ixnay on the Hombre", o mais recente da banda, e "Smash", que inclui os hits "Come Out and Play" e "Self Esteem".
E, de brinde, mais uma música do Nirvana, adiantou o vocalista Dexter Holland, 31, em entrevista à Folha por telefone, dos EUA.
Para os shows no Olympia (hoje e amanhã) e no Metropolitan, no Rio (dia 14), a banda promete energia. "Nossa música é enérgica, tocamos rápido e alto. Não queremos que as pessoas fiquem sentadas, bem-comportadas", afirmou.
Mas não é só com guitarras que o Offspring tenta instigar seu público. Basta entrar no site oficial da banda na Internet (www.
offspring.com) para ter uma surpresa: no lugar de biografias e discografia, dados sobre grupos de direita dos EUA e o "Anarchist Cookbook", um livro anarquista com receitas das mais diferentes bombas (leia texto nesta página).
Segundo Holland, tudo isso tem a ver com rebeldia punk, liberdade de expressão e uma tentativa de não ser fácil ou direto, mas "fazer as pessoas pensarem". Leia a seguir trechos da entrevista.
*
Folha - O que levou vocês a fazerem a página na Internet?
Dexter Holland - Queríamos que a página fosse original, única, e escolhemos o tema porque combina com a banda. No geral, música punk é rebelde. Nós só tentamos juntar idéias e estilo. Não sabíamos onde ia dar. Mas essa é a ironia de tudo: se você não concordar com os termos que aparecem logo de cara, é jogado imediatamente à página da Coalizão Cristã, o que é uma espécie de piada com as pessoas de direita.
Já o "Anarchist Cookbook" é considerado radical e perigoso por algumas pessoas. Mas leia a introdução: diz apenas que as pessoas não podem ter negado seu direito de acesso às informações. Ninguém pode impedir as pessoas de conhecerem o livro com a desculpa de que esse conhecimento será usado de forma errada. É o último estágio da liberdade de expressão.
Folha - Como isso se liga ao disco "Ixnay on the Hombre"?
Holland - Queria que o disco se parecesse com um show, uma experiência que tivesse começo, meio e fim. O site tem essa mesma preocupação. Quis ironizar o que acontece nos EUA, onde todo mundo processa todo mundo por coisas tolas. E também falar de censura. Recebemos várias cartas iradas com nossas letras, de pessoas que não nos entenderam.
Folha - Mas uma música como "Cool to Hate" (legal odiar) não é facilmente mal entendida?
Holland - Se você olhar o contexto, nossas outras letras, o tipo de banda que somos, saberá que não deve levar essa música a sério. Apesar de cantar em primeira pessoa, falo de algo que vejo cada vez mais ao meu redor. As pessoas acham bacana dizer que odeiam coisas, como se elas não fossem boas o suficiente. E quase se sentem melhor por isso. Sei que posso ser mal interpretado, mas não quero ser muito fácil. O fato de as coisas terem várias interpretações faz as pessoas pensarem.
Folha - O que você pretende com sua música?
Holland - Tento escrever sobre a individualidade -um dos grandes temas na nossa música-, sobre não levar as coisas muito a sério e talvez expressar coisas que as pessoas sentem mas ainda não disseram.
Antes de escrever "Self Esteem", por exemplo, não conhecia nenhuma música onde um cara dissesse que tem baixa estima. Isso era coisa de garotas.
Folha - O que é ser uma banda punk nos anos 90?
Holland - Não tenho muita certeza de como responder a essa pergunta, depende de como você define uma banda punk. Nós fazemos muitas coisas que normalmente não são associadas a bandas punk, como vender muitos discos. Ao mesmo tempo, somos orgulhosos de nossas raízes, bandas como Dead Kennedys, Ramones, TSOL.
Folha - Vocês foram criticados por terem assinado com uma gravadora multinacional, a Sony.
Holland - Eu preferiria ter ficado num selo independente. O fato é que não me dava bem com o proprietário do Epitaph. Somos muito amigos das outras bandas do selo, NoFX, Rancid, mas tivemos que sair. Escolhemos o selo Columbia, da Sony, porque gostamos das bandas que eles têm, como o Rage Against the Machine e Pearl Jam. São grupos que precisam de liberdade para fazer suas músicas.
Folha - Vocês estão fazendo shows beneficentes com Jello Biafra, ex-Dead Kennedys.
Holland - Sempre fui um grande fã do Dead Kennedys, escrevia cartas de fã para Biafra quando era mais jovem. E ele sempre respondia. Ele tem esse projeto de uma fundação beneficente onde várias bandas podem contribuir e a renda vai para diversas causas, mas teve uma certa dificuldade em encontrar grupos. Nós resolvemos participar. Doamos quatro shows nossos para a fundação, com renda para a Anistia Internacional, uma organização que trata de pessoas com Aids em Los Angeles e dois grupos menores.

Show: Offspring
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, Lapa, tel. 011/252-6255)
Quando: hoje e amanhã, às 21h30
Quanto: R$ 28 (pista), R$ 40 (setor C) e R$ 50 (camarote)

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