São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Ecoturismo exige a atuação dos nativos

BETSY WADE
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

O turismo responsável não protege apenas plantas e animais. Com o boom do ecoturismo (e também das viagens de aventura e educacionais), as visitas a áreas onde comunidades indígenas vivem longe do mundo industrializado são preocupação crescente.
Nos EUA, apareceu um grande número de associações preservacionistas prontas para dar dicas a operadores de viagens e turistas independentes que querem visitar um lugar e deixar apenas as pegadas -e, se possível, até evitá-las.
E o mercado livreiro já começa a colecionar títulos que guiam a conscientização dos turistas.
Sem fins lucrativos, a Eco-Tourism Society -grupo fundado há cinco anos em North Bennington, Vermont- considera o ecoturismo uma consequência natural do mercado turístico e oferece a seguinte definição.
"Ecoturismo é a viagem responsável para áreas naturais que conservam o meio ambiente e sustentam o bem-estar da população."
Esse grupo não promove viagens. Quer só ajudar as pessoas a encontrar seu próprio caminho, em vez de conduzi-las pelas mãos.
O grupo realça a importância da consciência e a participação dos moradores como pontos principais para o turismo responsável.
Para Don Montague, presidente do South American Explorers Club -associação para viajantes independentes que existe há 20 anos-, a primeira preocupação é saber quantos dos dólares do turismo ficam com a população local.
O clube também não opera viagens, mas distribui relatos de viagens de alguns de seus membros.
David Pearson, um professor de zoologia na Universidade do Arizona, usou dois projetos no Equador para ilustrar a importância da participação dos moradores.
Um deles aconteceu na reserva de Limococha, no leste do país. Nos anos 70, essa área só era acessível por meio de aviões e canoas de missionários. Naquela época, a região abrigava belas paisagens, a fauna e a flora amazônicas.
Um estrada foi construída nos anos 80, levando colonizadores. E, embora o governo tenha declarado a área reserva biológica, o uso de dinamite para a pesca varreu peixes e jacarés de um lago.
Essa região agora é uma triste lembrança, diz Pearson. "É um daqueles lugares que eu não quero ver de novo". Recentemente, diz ele, o esclarecimento mostrou que a fórmula "se você construir, eles vêm" não é mais a receita para o desenvolvimento sustentado.
Mudanças inevitáveis
Pearson fala de Kapawi, área perto da fronteira sudeste do país, onde os índios achuares rechaçaram as estradas e as cabeças de gado como parte do desenvolvimento.
Pearson diz que os achuares sabiam que as mudanças eram inevitáveis, mas queriam controlá-las.
A Candaros, uma empresa equatoriana, abordou o cacique da tribo, ofereceu US$ 2 milhões para fomentar o turismo na região e concordou, por exemplo, em construir sem usar pregos.
Assim, quando os materiais apodrecessem, entrariam em decomposição e voltariam para a terra.
"Disseram que iriam ensinar aos nativos a construir camas, a misturar martínis e a guiar um grupo de turistas pela mata, coisas que eles jamais haviam imaginado. No final de 15 anos, o acordo diz que todos os benefícios do desenvolvimento passam a ser propriedade dos nativos."
Kapawi começou a receber turistas em abril, afirma Pearson.
A associação vende um livro considerado por Montague como "um modelo do que virá" em matéria de guias.
Trata-se de "The Eco-Tourist's Guide to the Ecuadorian Amazon: Napo Province" (o guia do ecoturista para a Amazônia equatoriana: Província de Napo).
Os autores afirmam que a Província tem uma das mais vastas ofertas de comodidades e programas na bacia amazônica, além de oportunidades para o turismo sustentado, em vez da exploração de petróleo, de atividades agrícolas ou extração de madeira.
Em suas 106 páginas, o guia traz um grosso compêndio de mapas topográficos e uma miríade de dados: horários de ônibus, relação de cabanas, tours guiados e uma lista de projetos ecológicos e indígenas.
Para adquirir o livro, entre em contato com a South American Explorers Club, 126 Indian Creek Road, Ithaca, NY, 14.850, tel. (00-1-607/277-0488). Endereço eletrônico: explorer@samexplo.org. Site na Internet: http://www.samexplo.org.
A Survival International, uma organização de direitos humanos com escritórios em Londres, Paris, Milão e Madri, está preparando uma publicação -que deve ser lançada até o fim deste ano- listando algumas comunidades tribais que se organizaram para acomodar turistas e preservar seu meio ambiente e cultura.
Richard Garside, porta-voz da entidade em Londres, estima que há 200 comunidades desse tipo, provavelmente, 100 na Austrália.
Um trabalho que essa organização tomou para si é a monitoração da maneira com que as populações são apresentadas ao mundo.
Tribos isoladas, que são anunciadas pelos agentes de viagem como exóticas ou sobreviventes da Idade da Pedra, não demoram muito a se maquiar para atrair mais pessoas.
As consequências disso são a criação de ornamentos artificiais ou a invenção de rituais para angariar dinheiro, estereotipando a cultura local.

Tradução Edson Franco

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