São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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BC liquida oito instituições financeiras

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA SUCURSAL DO RIO

O Banco Central liquidou ontem mais oito instituições financeiras suspeitas de envolvimento com o esquema de negociação irregular de títulos públicos investigado pela CPI dos Precatórios. Até agora, o BC fechou 24 empresas pelo mesmo motivo.
Foram fechados os bancos Porto Seguro e Interfinance, as distribuidoras de valores Interfinance, Cedro, Trader, Astra e Hot e a corretora Valor. As empresas apareceram em investigações do BC paralelas às realizadas pela CPI.
Serão nomeadas comissões de inquérito do BC para trabalhar nas oito instituições, com o objetivo de detectar se houve crime contra o sistema financeiro ou outras irregularidades com consequência penal. Neste caso, o BC enviará notícia-crime ao Ministério Público.
O escândalo dos precatórios estourou no final de 96, quando foi descoberto que Santa Catarina, Alagoas e Pernambuco emitiram títulos para pagar precatórios inexistentes. Depois, constatou-se que os títulos eram negociados de maneira atípica no mercado: passavam por várias instituições no mesmo dia, aumentando de preço.
Na chamada "cadeia da felicidade", as empresas lucravam ao vender papéis por preços acima dos de compra. Depois, segundo o BC, o lucro era transferido a terceiros, por meio de operações aparentemente fictícias. Em fevereiro, com a CPI dos Precatórios já instalada, o BC liquidou 16 empresas.
Segundo o ato de liquidação de ontem, o Interfinance participou de operações com títulos fora dos padrões do mercado, com prejuízo para os emissores dos papéis. O banco possuía um patrimônio contábil de R$ 14 milhões, apenas uma agência e 32 funcionários.
O Porto Seguro foi liquidado por inadimplência. O banco comprou títulos do Fundo de Liquidez do Estado de Santa Catarina além de sua capacidade patrimonial, segundo o BC. No momento em que a CPI impediu o refinanciamento dos títulos pelo fundo, o banco não encontrou outro comprador.
Segundo o BC, o mesmo ocorreu com a Cedro e a Trader, também detentoras de títulos catarinenses.
As demais instituições fizeram operações em que alguns participantes ganharam e outros perderam de forma combinada.
Outro lado
A Trader entrará hoje na Justiça com um pedido de notificação ao BC. Segundo o advogado Ricardo Barbosa, o objetivo é prevenir o BC de eventual responsabilidade por danos causados à empresa.
A empresa nega ter participado de cadeia de operações com títulos de Santa Catarina. Nega ainda ter auferido lucros "fora das condições normais", acrescentando que "aliás, não auferiu lucro algum".
O escritório de advocacia Fernando Orotavo representa as distribuidoras Trader, Astra e Cedro. Por intermédio dos advogados, as empresas classificam a liquidação de irresponsável. "Santa Catarina não foi roubada. Captou o dinheiro mais barato de sua história", diz nota elaborada pelos advogados.
A Cedro e a Astra também pretendem ir à Justiça contra o BC. A Cedro diz ter operado com títulos públicos sob a supervisão do BC.
Um representante do Interfinance, que se recusou a revelar seu nome, disse que a instituição vai aguardar as ações do interventor para tomar as medidas cabíveis.
Procurado pela reportagem, o diretor do Banco Porto Seguro José Roberto Cardoso Bueno não retornou os telefonemas. A telefonista da Valor informou que os diretores estavam fora em reunião.

Colaborou a Sucursal do Rio

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