São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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Xangai; Via Negromonte; Barão Vermelho; Carlos Navas; "40 Anos de Música"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES

Xangai
O cantador baiano Xangai lança seu 12º disco, "Cantoria de Festa" (Kuarup), disposto a investir num "o que é, o que é" dos ritmos populares do interior do Nordeste. Isso inclui o xote sem-vergonha de Jackson do Pandeiro ("Vou de Tutano"), os cocos impagáveis de Jacinto Silva e Déo do Baião, a cantoria de Elomar, o baião "Meu Cariri", já clássico com Marinês e com Clara Nunes. Sem pretensões de modernidade, é CD para a antologia da música popular nordestina. (PAS)

Via Negromonte
A cantora-atriz Via Negromonte volta ao disco com "Pura Eu", dominado pela cítara, que dá um tom oriental -quando não algo esotérico- ao conjunto e empobrece o resultado colhido da voz inspirada da moça. "Me Leve", de Kahled, é o destaque, e a versão em inglês para "Você Não Entende Nada", de Caetano (que virou "Eat You") é o vacilo. No caminho entre uma ponta e a outra, mantras excessivos e letras tipo besteirol ("Pura Eu") perturbam voz que promete bem mais.
(PAS)

Barão Vermelho
Se seu último CD fez muito sucesso e você quer faturar um pouquinho mais em cima dele, há uma receita fácil e rápida: faça tudo de novo ao vivo (com uma ou outra canção não-incluída antes como desculpa) e acrescente uns remixes imbecis. A chance de êxito é grande. É isso que a WEA e o Barão Vermelho perceberam e colocam em prática em "Ao Vivo/Remixes". No meio disso tudo, o consumidor de música -não de rodelinhas metálicas para enfeitar a orelha- que se dane.
(PAS)

Carlos Navas
"Pouco pra Mim" (Dabliú), disco de estréia de Carlos Navas, 28, mostra que ele ainda não é lá um grande cantor, mas sabe usar o acento pop para realçar o que canta. Assim, recupera as vozes de Lady Zu e Alaíde Costa em duetos e faz Tetê Espíndola dar show em "Lugar". O destaque é "Só Solitário" (que Alzira Espíndola já cantou brilhantemente). Só não dá para engolir mais leituras das surradas "Beatriz", "Ânima" e "Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar)".
(PAS)

"40 Anos de Música"
A RGE comemora seus 40 anos com uma coleção de 40 volumes -um para cada ano- que compilam a produção da gravadora desde 1957. Como coletânea, é um primor de irregularidade. Há desde os clássicos inquestionáveis -Maysa em "Meu Mundo Caiu" (58), o precursor da jovem guarda George Freedman em "Multiplication" (62), Chico Buarque em "Pedro Pedreiro" (65) e "A Banda" (66), Erasmo Carlos em "Vem Quente Que Eu Estou Fervendo" (67), Geraldo Vandré na comovente "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores" (68)- até tesouros escusos -Tom Zé em "Lá Vem a Onda" (70), as primeiras gravações de Paulinho da Viola, Tim Maia e Macalé, Nana Caymmi cantando "Alegria, Alegria" (67), "Agradeço Amor" (76), do soulman Tony Bizarro. E muito, muito lixo.
Lado a lado com Adoniran Barbosa, Ciro Monteiro, Isaura Garcia, Agostinho dos Santos, Silvio Caldas, Linda Baptista, Dick Farney, Alaíde Costa, Elton Medeiros, Novos Baianos, Rosinha de Valença, Germano Mathias, Marilia Medalha, Sérgio Ricardo, Trio Mocotó, há abundância de nomes que a história nem fez questão de registrar -já ouviu falar de Laila Curi, Cidália Meireles, Lourdinha Brasil, Teddy Reno, Dorinha Freitas, Omar Izar, Cid Gray...?
É aí que o pacote ultrapassa a irrelevância e vira banquete ao estudioso de MPB, retratando história sem o filtro de gosto que seleciona e descarta nomes no correr dos anos. Mas, como produto de consumo, é muita areia e pouca pérola.
(PAS)

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