São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Romance soa como livro de candidato

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador do Distrito Federal não admite, mas o livro que está relançando busca amealhar, aqui e ali, dividendos políticos.
Para usar uma das expressões do ministro Sérgio Motta, o petista Cristovam Buarque se aproveita da literatura fantástica e dá "uma faturadinha".
Em Brasília, tem-se por certo que disputará a reeleição. Ele próprio, mais uma vez, não admite com todas as letras. Prefere abraçar o discurso oblíquo da política: "Não sou candidato. Ainda".
"A Ressurreição do General Sanchez", no entanto, soa como um livro de candidato. Não apenas por causa do prefácio que zomba de Jordan Cardoso, mas principalmente em função de outros dois textos acessórios, o das orelhas e o que carrega o título de "Sobre o autor".
O primeiro, assinado pelo editor Luiz Fernando Emediato, enfatiza o desprendimento que o governador revelou quando decidiu relançar o romance.
É uma louvação às avessas, que aponta fraquezas para incensar o homem que as reconhece:
"Cristovam demonstra que a atividade política não lhe cortou a capacidade de expor à crítica e ao ridículo não só aqueles que (...) o mereçam, mas também a si mesmo, numa corajosa auto-expiação. É fascinante como desmonta com fina ironia as incapacidades dos intelectuais que -como ele- chegaram ao poder".
O outro texto, "Sobre o autor", opta por elogio ainda mais escancarado. Depois de fornecer um rápido currículo de Buarque, segue o mote das orelhas e insiste na porção "scholar" do governador, mas agora sem mencionar as tais incapacidades (em vez disso, ilumina as realizações do político):
"Cristovam faz parte de um tipo raro de intelectual -aquele que formula idéias novas (...) e escreve para o grande público, de forma compreensível, e não apenas repete teorias para (...) a academia".
"Como autor, ele formulou uma interpretação própria do problema brasileiro (...); concebeu propostas alternativas e apresentou medidas concretas para uma revolução nas prioridades -do que um exemplo é a bolsa-escola- implantada por seu governo no Distrito Federal."
O texto, sem assinatura, termina exaltando o Cristovam globalizado: "É também um dos raros autores (...) que não se limita a estudar e propor conceitos limitados ao Brasil, mas se aventura no pensamento do mundo inteiro, formulando idéias universais (...) e propondo alternativas para a civilização, como a modernidade-ética e a globalização sem exclusão".
Embora não assine o texto, Emediato diz que o redigiu. Proprietário da Geração Editorial, define-se como ex-simpatizante do PT.
Desde 1991, é consultor de Luiz Antônio de Medeiros -presidente da Força Sindical e opositor da CUT, a central operária dos petistas.
"Não creio que o romance me traga vantagens políticas", avalia Buarque. "Politicamente, como falava Tancredo Neves, o melhor é não escrever nada."
"Para me reeleger no Distrito Federal", prossegue, "tenho de chamar a atenção com inaugurações. Sou o governador. Não preciso de uma coisa tão arriscada quanto um livro."
(AA)

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