São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Acordo com Microsoft traz alívio à Apple

LUCIA REGGIANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Traídos pelo leiteiro. Foi mais ou menos assim que macmaníacos de carteirinha se sentiram após o anúncio do acordo entre as ex-inimigas figadais Apple e Microsoft, na última quarta-feira.
Os fiéis consumidores, que sustentam a fama dos micros Macintosh, tiveram de engolir os US$ 150 milhões de Bill Gates e achar bom -a aposta do homem mais rico do mundo dá à combalida Apple o oxigênio para tentar se reerguer.
Nos últimos 21 meses, a Apple acumulou perdas de US$ 1,7 bilhão -US$ 867 milhões só em 96. As vendas no ano passado caíram quase 22%, empacando em US$ 8,9 bilhões.
Para uma empresa que muitos achavam que não tinha conserto, o acordo com a Microsoft foi uma brilhante jogada de marketing, que dá credibilidade e fôlego.
Como esse respiro não acontece por mérito da empresa, seus efeitos se restringem ao curto prazo. Observadores consideram três meses o máximo que o mercado pode esperar por ações concretas.
Sinais claros
Investidores, consumidores e desenvolvedores de software querem ver a cooperação entre Apple e Microsoft acontecer.
A empresa de Bill Gates se comprometeu a produzir versões de seus programas para Macintosh e a lançá-las simultaneamente às versões para "Windows".
A Apple também precisa traçar claramente o rumo que dará a cada segmento em que atua. A linha para usuários domésticos continua? Ou a empresa vai se fixar em nichos como computação gráfica?
Mesmo que a Apple opte por se manter no segmento gráfico, qual será sua estratégia para enfrentar a concorrência das máquinas Sun e Silicon Graphics mais baratas e a aproximação das estações baseadas em chips Pentium?
Também em tecnologia, a batalha não está ganha. Embora as máquinas Apple lançadas na semana passada sejam mais rápidas do que os PCs com chips Intel, analistas acreditam que os novos processadores pouco ajudarão na recuperação das finanças da empresa.
"Esses chips são atraentes para usuários de Mac que procuram micros mais rápidos", disse Linley Gwennap, editor da "Microprocessor Report". "Mas os chips não vão convencer ninguém com um PC a trocá-lo por um Mac."
Comando
A credibilidade ganha com investimento da Microsoft pode se desvanecer sem uma estratégia consistente e um comando firme.
A empresa está sem comandante desde o final de julho, quando Gilbert Amelio deixou o cargo (leia cronologia nesta página).
O novo conselho da empresa, anunciado também na semana passada, vai escolher o sucessor de Amelio. Integram o conselho Jerome York, ex-diretor-geral financeiro da IBM, o próprio Steve Jobs, William Campbell, principal executivo da Intuit, e Larry Ellison, presidente da Oracle.
Enquanto o novo executivo não chega, a Apple contabiliza mais uma perda. Lawrence Tesler, cientista chefe e vice-presidente de tecnologia avançada, deixou a empresa dia 31 de julho para dirigir a Cocoa Software, uma nova companhia de software para crianças.
Tesler, que tinha vindo do Parc, centro de pesquisas da Xerox, estava na Apple desde 1993.
Valorização
Apesar dos desafios, os investidores reagem com otimismo. As ações da Apple, que estavam a US$ 19,75 um dia antes do acordo, chegaram a subir 40% na quarta-feira, fechando o dia a US$ 26,50 no mercado de balcão de Nova York.
As ações da Microsoft também se valorizaram alguns centavos, passando de US$ 143.
Anteontem, em função das vendas de interessados em embolsar lucros, as cotações dos papéis da empresa recuaram para US$ 24,78.
No que diz respeito às ações, só Steve Jobs fez mau negócio. Há dois meses, segundo a revista "Time", Jobs vendeu 1,5 milhão das ações que recebeu da Apple como parte do pagamento pela NeXT. Estaria US$ 16 milhões mais rico se tivesse ficado com elas.

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