São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 1997
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'Quem manda somos nós', desafiam comandantes

LUIS HENRIQUE AMARAL; XICO SÁ
DOS ENVIADOS ESPECIAIS

Os comandantes das Polícias Militares enquadraram, no encontro de Foz de Iguaçu (PR), as associações estaduais de cabos e soldados, que comandaram recentemente greves e movimentos de insubordinação em pelo menos 13 Estados do país.
"Quem manda na PM e fala pela PM somos nós, não podemos deixar que aconteça a quebra da hierarquia", disse o comandante do Maranhão, coronel Manoel de Jesus Moreira Bastos.
"O Muro de Berlim caiu, o comunismo acabou, era natural que as bases da PM mudassem também", afirmou o coronel.
"Mas nós, os comandantes, fomos surpreendidos, não acompanhamos essas mudanças nas tropas", disse Bastos.
Mesmo reconhecendo que as paralisações ocorreram por conta dos baixos salários dos soldados, os dirigentes do Conselho Nacional de Comandantes Gerais da PM foram claros em um recado: "Quem manda somos nós".
Atividades recreativas
O documento elaborado pelos comandantes ao final do encontro, a "Carta de Foz de Iguaçu", dedicou um item especialmente para o enquadramento das associações de cabos e soldados.
"As associações de classe devem cumprir o seu verdadeiro papel no contexto social das Polícias Militares e dos Bombeiros Militares, em consonância com a legislação pertinente e as diretrizes de cada corporação", afirma o texto.
Na prática, a recomendação dos comandantes vai representar a volta das funções convencionais mantidas pelas associações de cabos e soldados antes da onda de greves: cuidar das atividades recreativas e sociais da tropa.
Sintonia
Alguns comandantes mais moderados, como o coronel Claudionor Lisboa, da Polícia Militar de São Paulo, acreditam que a direção dos quartéis deve ficar mais sintonizada com as entidades.
"Tenho mantido uma política de aproximação", disse. Lisboa costuma se reunir, normalmente em almoço, com os líderes da associação paulista.
Com essa atitude, o coronel acha que consegue diminuir a distância entre a sua realidade e a da tropa.
"Fico informado sobre tudo o que acontece, o que permite saber como anda a base", afirmou.
Segundo a avaliação do coronel, essa pode ter sido uma das razões, além da política de salário adotada pelo governo, da manutenção da ordem no Estado -em São Paulo os policiais não chegaram a paralisar suas atividades.
Outro ponto defendido por Lisboa, também registrado no documento final do encontro, foi a reforma do regulamento disciplinar dos quartéis, considerado muito rigoroso em questões banais.
(LHA e XS)

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