São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Meta do HSBC Bamerindus é 1º no ranking

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O HSBC Bamerindus -5º banco do país em ativos- quer chegar à liderança até o ano 2000, adotando uma estratégia de crescimento gradual baseada na reconquista de clientes, criação de novos produtos, globalização de operações e investimento maciço no treinamento de pessoal.
É o que disse sir William Purves, presidente mundial do grupo HSBC, em entrevista exclusiva à Folha, durante um vôo de 1h20 do Rio para Brasília, anteontem, em jatinho executivo. É sua primeira visita ao Brasil.
"Não vamos reinventar a roda no primeiro ano de nossas operações no Brasil. Vamos primeiro aprender a andar antes de começar a correr, vamos aprender como a economia e o sistema bancário funcionam, treinar nossos executivos, gerentes e funcionários e, com o tempo, trazer inovações para o Brasil", disse.
"Infelizmente, o Bamerindus, que é uma excelente marca, se meteu em muita encrenca, e a nossa principal tarefa agora é reconstruí-lo dos pés à cabeça."
Agraciado pela rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra, há quatro anos, com o título de "sir" (cavaleiro da coroa britânica), Purves, um escocês de 65 anos, veio ao Brasil conhecer de perto o Bamerindus, a mais importante aquisição do grupo HSBC neste ano.
O grupo tem ativos mundiais de US$ 402 bilhões em 78 países.
Ele disse que os bancos brasileiros receberam bem a chegada do HSBC ao país. Segundo a renomada revista de negócios "Forbes", dos EUA, o grupo HSBC é o mais lucrativo da história mundial dos bancos, com lucro líquido de US$ 4,8 bilhões, em 1996.
"Acho que os bancos brasileiros não devem temer a concorrência, porque ela é boa para as instituições e boa para os clientes", disse.
Purves começou sua carreira na Hongkong and Shanghai Banking Corporation em 1954 como office-boy. Depois de atuar como gerente internacional, diretor-executivo e vice-presidente, Purves chegou à presidência em dezembro de 1996.
Com a criação da HSBC Holdings, em 1991, quando o grupo comprou o banco Midland, da Inglaterra, Purves chegou à presidência mundial do grupo, que passou a ter sua sede em Londres.
Purves revelou que o HSBC queria entrar no Brasil desde os anos 70, tendo em 1995 adquirido 6,14% das ações do antigo Bamerindus.
Purves disse que trabalha sete dias por semana para poder tocar os negócios do grupo em cinco continentes. Isso impede que se dedique a seus hobbies favoritos: jogar golfe e assistir jogos de rúgbi.
Com a mesma sinceridade do escocês da anedota -na Inglaterra o escocês tem o estereótipo de pão-duro- que disse que o melhor uísque é o que lhe servem de graça, Purves rebateu os comentários no mercado segundo os quais o grupo HSBC estaria disposto a perder dinheiro por três ou quatro anos no Brasil.
"Não gosto de perder dinheiro. Nossos acionistas sabem que talvez sejam necessários uns dois ou três anos para obtermos o retorno desse investimento. Mas nosso objetivo aqui é ter lucro desde o primeiro dia."
Sem revelar os números, disse que as operações do HSBC no Brasil tiveram pequeno lucro nesses quatro primeiros meses de atividades. O HSBC Bamerindus começou a operar no dia 27 de março.
Hoje, o grupo HSBC submete aos acionistas, em Londres, os seus resultados do 1º semestre deste ano, que registraram lucro bruto de US$ 4,3 bilhões, mais 13% sobre o 1º semestre do ano passado.
Purves regressa hoje a Londres, sede mundial do grupo HSBC, depois de rápida visita ao Brasil. Ele se reuniu com o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro Pedro Malan (Fazenda), em Brasília, com o governador Jaime Lerner (PDT), em Curitiba, e com diretores, executivos e funcionários do HSBC Bamerindus, no Rio, em Curitiba e em São Paulo.
A seguir, trechos da entrevista.
*
Folha - O sr. está satisfeito com os primeiros quatro meses do HSBC Bamerindus?
Sir William Purves - Sim, estou. Começamos bem, mas sabemos que há muito a fazer. Ainda levará algum tempo até que possamos ver o Bamerindus caminhando suavemente. É necessário submeter nossos funcionários a muito treinamento e 'retreinamento'. Acabamos de comprar um edifício em Curitiba, perto de nossa sede, para transformá-lo em um centro de treinamento.
Folha - Qual é a sua avaliação do nível profissional dos funcionários que o HSBC encontrou no Bamerindus em comparação com os de outros países?
Purves - Este é o meu primeiro dia no Brasil e acho que seria errado fazer essa avaliação de imediato. Não há dúvida de que há banqueiros muito capazes no Brasil, mas houve uma mudança no cenário econômico. Por muitos anos, os banqueiros brasileiros viveram e trabalharam em um cenário de inflação muito alta. Isso, fico feliz em dizer, passou, e espero que esses dias tenham ido embora para sempre. Hoje, os bancos têm de ter uma atitude totalmente diferente em relação à sua atividade.
Folha - O sr. é descrito no mercado como um defensor de atitudes draconianas em relação aos custos, exigindo a otimização do tempo e uma vida espartana de seus funcionários. A imagem é correta?
Purves - É uma imagem romântica. Não é séria. Não gostaria de ser descrito como draconiano, porque essa não é a melhor maneira de dirigir um negócio bem-sucedido como o nosso. Defendo trabalho de equipe em todos os níveis. Sem apoio dos executivos e funcionários, não se consegue sucesso.
Folha - Mas o sr. coloca o controle de custos como uma das principais metas para a competitividade de seu grupo internacionalmente.
Purves - Sim, acredito que uma das coisas mais importantes para o progresso em qualquer setor é que os custos não devem crescer a uma taxa superior à taxa de inflação. E, mais importante, a cada ano fazemos todos os esforços para que a nossa receita aumente mais rápido do que nossos custos. No nosso grupo, a proporção entre custos e receita é de 54%, o que é menor do que a da maioria dos nossos concorrentes. Prefiro melhorar a relação custos/faturamento por meio do aumento da receita.
Folha - Para alcançar esse objetivo no Bamerindus, será necessária uma profunda reestruturação de métodos?
Purves - Certamente alguma reestruturação será necessária, não só no Bamerindus, mas em todos os bancos no Brasil. E isso já começou. Não gostaria que nosso pessoal aqui no Brasil pense que vamos administrar o banco de uma maneira muito dura. O que queremos fazer é dar a eles a oportunidade de aprender, a oportunidade de servir e a oportunidade de ampliar nossos negócios. Os beneficiados não serão apenas os nossos acionistas. Tenho uma imensa responsabilidade com o bem-estar de nossos funcionários em todo o mundo. Empregamos 138 mil pessoas, operamos em 78 países.
Folha - As tarifas bancárias no Brasil estão entre as mais altas do mundo. O que o grupo HSBC pretende fazer para reduzi-las?
Purves - Não podemos fazer nada a esse respeito nos próximos meses. Isso, do nosso ponto de vista, seria contraproducente. Neste momento, em que precisamos controlar nossos custos, que chegaram a patamares muito elevados, não podemos cortar receitas. A redução de tarifas virá mais tarde. A hora é de reconquistar clientes. Nos primeiros cem dias de nossa atuação abrimos 700 mil contas, uma média de 40 mil por semana.
Folha - A competição na Inglaterra forçou os bancos a até mesmo a funcionar nos sábados.
Purves - É verdade. E alguns deles oferecem todo o leque de serviços oferecidos nos dias de semana. É um exemplo de uma das mudanças resultantes do acirramento da concorrência. Fiquei surpreso esta manhã, por exemplo, ao ver que os bancos brasileiros não abrem suas portas antes das 10h, apesar das filas imensas de clientes esperando na porta, que a maioria fecha muito cedo e nenhum abre aos sábados.
Folha - Como o sr. vê o interesse do BBV e do Santander pelo Brasil?
Purves - Esses bancos espanhóis estão presentes em toda a América Latina com operações muito bem-sucedidas. Têm tido o privilégio de trabalhar num mercado que, até há pouco, era muito generoso no que diz respeito a margens de lucro. Estão vindo para a América do Sul à medida que a competição aumenta na Europa e porque têm tido dificuldades na Ásia.
A concorrência é boa para o cliente, é boa para a instituição. Cingapura, por exemplo, é um mercado muito fechado. Essa é uma das razões pelas quais os bancos de Cingapura são importantes somente no mercado doméstico. Não são importantes internacionalmente porque não se submeteram à concorrência para evoluir.
Folha - Agora, como um importante investidor estrangeiro no Brasil, como o sr. analisa a gestão da economia no país?
Purves - A queda da inflação foi um grande feito, mas há o problema das contas externas. A balança comercial será negativa outra vez. Em parte, isso reflete a importação de bens de capital necessária para os novos investimentos. Isso é natural. Mas um país não pode viver por muito tempo com déficits externos. Tenho certeza de que o governo brasileiro tem consciência disso.
Folha - Com sua experiência nos mercados asiáticos, o sr. acha que a crise cambial da Tailândia vai contagiar o Brasil?
Purves - Não deveria, mas o mundo é um mercado global. A crise do México há dois anos e meio causou oscilações nos mercados asiáticos. Há muito dinheiro na mão de especuladores, que podem movê-lo rapidamente de um lado para outro. Mas não vejo similaridades entre os problemas da Tailândia, da Malásia e de outros países asiáticos com o Brasil.

Texto Anterior: Minibanda desliza com mercado calmo
Próximo Texto: Raio X
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.