São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
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'Dinossauros deviam pendurar a chuteira'

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Maestro erudito que revolucionou a música popular brasileira ao criar os arranjos do disco-manifesto "Tropicália ou Panis et Circencis" (68), Rogério Duprat hoje vive com a família num sítio em Itapecerica da Serra, afastado da música por problemas auditivos -e por convicção.
"Não posso mais atuar em estúdio por causa desse problema sério de surdez. Já não tenho acuidade suficiente, já não tenho muito gás", explica.
Ele diz, entretanto, que não é essa a razão do afastamento. "Esses dinossauros, velhos pra cacete, como Emerson, Lake & Palmer e Rolling Stones, deviam pendurar a chuteira e ir cuidar dos netos."
"Depois daquele desbunde todo, tudo amainou, ficou tudo do mesmo jeitão. Hoje tudo tem a cara do antigo PDS, que hoje é o PSDB", define.
"A humanidade atingiu um ponto crítico, de globalização, de final das grandes lutas e utopias. Tudo hoje que é representação está em cheque", filosofa.
Por não encontrar "a grande receita" que resolvesse o impasse, diz que preferiu se retirar.
A exceção aberta a Lulu Santos, segundo ele, dá-se por pura simpatia, e sem pretensões. "Ele é um azougue no palco, não vão ser minhas cordas e metais que vão melhorar o Lulu Santos. Essa faixa vai ser a menos tocada e ouvida do disco."
Diz que se vê bem dentro de um disco "tecnopop" como o de Lulu. "Fui fruto e móvel da tecnologia. Meu trabalho mesmo soa diferente, absorvi idéias que foram passando, os 'eletronismos'."
Duprat diz que não se afastou do gosto pela música, apesar do desencanto. "Ainda consigo ouvir nos meus fones. Gosto das pessoas quando elas estão começando, antes de serem canonizadas."
Ainda assim, diz que até voltaria a trabalhar com os velhos tropicalistas.
"Os Mutantes eram sensacionais, o grupo de rock mais moderno do Brasil. Até voltaria a trabalhar com Rita Lee, se ela estivesse disposta a isso."
Quanto aos outros -Caetano, Gil, Gal-, ele tem mais reservas. "Até faria algo com eles, mas não vejo com bons olhos essa canonização. Não gosto de gênio, detesto gênio."
(PAS)

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