São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
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Livro de jornalista reúne "confissões"

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

A partir de entrevistas feitas entre 1965 e 1996, o jornalista argentino Rodolfo Braceli escreveu o livro "Borges-Bioy Confissões, Confissões", que reúne conversas com dois dos principais escritores argentinos deste século: Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares.
Mas o livro de Braceli é mais do que uma simples reunião dessas entrevistas.
O autor da obra criou encontros fictícios entre Borges e Bioy Casares, usando declarações textuais dos dois escritores sobre os mais diversos temas.
Braceli também criou contos transformando seus entrevistados em personagens. "É uma mistura de jornalismo, semificção e ficção pura", disse o autor à Folha.
As confissões registradas no livro são realmente extraordinárias. Bioy Casares conta que Borges tinha "uma atitude adolescente" com as mulheres, pois se entregava "com pés e mãos atados". Para ele, Borges era muito "pueril" no terreno amoroso.
"Eu lhe dizia que a mulher que ele amava não esgotava o mundo. E que para estar melhor com ela era conveniente ter, paralelamente, um leve romance com outra", afirma Casares, admitindo que Borges "aprendeu pouquíssimo" com os seus conselhos.
Borges parece confirmar a avaliação do seu amigo. Ao comentar seu comportamento ao lado das mulheres (mais risonho e brincalhão), lembra que está cego e que os cegos "têm a tendência de tomar o braço mais próximo", pois precisam "de guias e de certezas".
O ateísmo de Borges fica claro em suas declarações. Ele diz que é "ateu" como o pai. "Meu pai dizia que o mundo é tão estranho que tudo é possível, até a Santíssima Trindade", brinca.
Bioy Casares também afirma ser ateu, apesar "de ter lido a 'Bíblia' por toda a vida, do princípio ao final". Ele conta que chegou a ir a um convento, ficou aterrorizado com a existência do inferno e resolveu jogar futebol para se "liberar" desses medos.
Ilha deserta
O jornalista Rodolfo Braceli não deixou de fazer a famosa pergunta sobre quem (ou o que) os dois levariam para uma ilha deserta.
Borges diz que levaria um tigre, sua mãe, a Enciclopédia Britânica e seu gato Bepo. Casares responde que levaria "pelo menos uma mulher", além de livros, cadernos, caneta e tinta.
Rodolfo Braceli conta que procurou "deixar de lado" a análise literária nas conversas que teve com os dois escritores argentinos e se aproximou "do lado mais humano, da vida cotidiana".
O autor diz acreditar ter conseguido declarações sensatas e profundas dos dois escritores por ter conversado com pessoas que "enfrentaram a solidão em um momento de velhice".
(FG)

Nome: "Borges-Bioy Confesiones, Confesiones"
Autor: Rodolfo Braceli
Preço: US$ 15 (em média)
Páginas: 252

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