São Paulo, sábado, 16 de agosto de 1997
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Tartarin em ação

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O plano "Brasil em Ação", tantas vezes anunciado e nunca executado, está parecendo as viagens de Tartarin de Tarascon para caçar leões na África (os puristas preferem dizer: em África). Para os que não conhecem o delicioso livro de Alphonse Daudet, aí vai um resumo.
Tartarin era o personagem mais importante de Tarascon -cidadezinha perto de Arles, onde o sol provençal instiga a imaginação e exagera os fatos. Era o presidente honorário dos caçadores locais, que, aos domingos, iam para o campo e faziam tiro ao alvo nos bonés.
Voltavam à tarde com os bonés em fiapos espetados nas carabinas, como troféus de guerra. De tempos em tempos, corria a notícia de que Tartarin partiria para a África, onde caçaria leões.
O tempo passava, Tartarin não partia, mas todos acabavam acreditando que ele já tinha partido e retornado coberto de glória. O próprio Tartarin acreditava nisso. No Clube dos Caçadores, nas noites de frio, começava a contar como conseguira matar tantos e tamanhos leões numa África a que nunca tinha ido.
Desde que tomou posse, o ministro Kandir, acolitado pelo presidente da República, ameaça esse "Brasil em Ação".
Já foram marcadas datas e liberadas verbas, de cinco em cinco meses convocam-se a mídia, o ministério inteiro e demais membros da corte para a cerimônia que inaugura aquilo que FHC chama de "futuro".
A última edição dessa viagem aos leões da África (ou "de África") está sendo anunciada para começar agora, indo até as eleições de 98. Estão reservados R$ 35 milhões.
Desse total, R$ 7 milhões serão gastos ainda neste ano para tirar (segundo palavras do próprio ministro) o "Brasil em Ação" da clandestinidade. Outros R$ 28 milhões ficarão reservados para o ano que vem, pois o plano -ainda segundo o ministro- deverá gerar dividendos eleitorais.
Tartarin é personagem de ficção. Mas Tarascon existe mesmo.

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