São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Pesquisa revela o perfil do fraudador

Ele é homem, casado, tem de 36 a 40 anos e segundo grau

CARLA ARANHA SCHTRUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Para fraudadores de plantão, a notícia é boa: pesquisa da GBE Peritos & Investigadores Contábeis, realizada com 1.511 organizações privadas de todo o país, revela que é fácil furtar nas empresas.
Já para os departamentos de RH (recursos humanos), trata-se de prova contundente de que algo vai mal -e muito- no relacionamento entre os funcionários, seus chefes e a própria empresa.
"Do executivo ao office boy, todos fraudam a empresa de alguma forma, seja mentindo em relação à conta de táxi, seja tirando milhões", diz Marcelo Alcides Carvalho Gomes, 33, diretor da GBE.
Segundo ele, é possível traçar o perfil do fraudador: 86,9% ocupam cargo abaixo do de gerente, 52,4% têm de 36 a 40 anos e 81,2% possuem segundo grau (veja quadro). "São pessoas que não têm muitas perspectivas na carreira."
Altos executivos
Os altos executivos, segundo aponta o relatório, que a Folha traz com exclusividade, seriam responsáveis por apenas 1,8% dos furtos. "Mas esse dado não reflete a realidade. As fraudes cometidas por eles não são detectadas."
Corte de níveis hierárquicos, falta de treinamento, ausência de um controle efetivo de gastos dos funcionários: tudo isso contribui para que o roubo passe de tentação a realidade, de acordo com consultores de RH ouvidos pela Folha.
Laerte Cordeiro, 64, diz que o clima na maioria das empresas é de falta de lealdade e de incentivo: "É negativo. Faltam treinamento e uma política de valorização. Investe-se pouco no funcionário".
Por outro lado, segundo ele, poucos departamentos de RH levantam o histórico do profissional antes de contratá-lo. "Por economia, as empresas não tomam essa precaução. É uma ironia."
Demissão
A carreira profissional de quem comete uma fraude não acaba, afirma Simon Franco, 58. "As empresas não têm interesse em processar o executivo ou divulgar o caso. Isso poderia abalar a imagem dela e ainda gerar um processo de calúnia por parte do acusado."
Mas, mesmo sem provas, o mercado de trabalho suspeita de que o executivo tenha fraudado a empresa quando ele é demitido repentinamente, opina Marcelo Alcides Carvalho Gomes, 33. "O sigilo é mantido porque não interessa a ninguém essa divulgação."
Segundo o advogado de direito empresarial Gustavo Stussi, 39, o boato costuma ter vida curta. "Acaba se diluindo no tempo.'

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