São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Surge nos EUA diploma de 'masculinidade'

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DE NOVA YORK

Depois de o feminismo ter invadido as universidades norte-americanas, chegou a vez de os estudantes começarem a discutir o papel do homem na sociedade.
Pelo menos é o que pensam as faculdades Hobart e William Smith, numa cidade de 14 mil habitantes, de nome Geneva, a quatro horas de carro de Nova York.
Pela primeira vez nos Estados Unidos, e talvez no mundo, será oferecida a possibilidade de o estudante se graduar em "estudos do homem e da masculinidade".
Apesar de nos últimos anos o número de cursos universitários sobre o homem contemporâneo ter aumentado de 40, em 1984, para 509, em 1997, até agora não se tinha conhecimento de pessoas entrando na universidade para tirar um diploma de "masculinidade".
"Muitos homens têm problemas de identificação. As dificuldades de assumir o papel masculino hoje em dia não são poucas", diz Chip Carraro, professor de história e coordenador do curso.
A iniciativa da Hobart e William Smith, de formar acadêmicos especialistas no assunto, tem sido elogiada por professores de outras universidades nos EUA.
"Ao contrário de mulheres, negros e homossexuais, que foram e ainda são discriminados pela sociedade, mas estudados pela comunidade universitária, eram os homens os desprestigiados no mundo acadêmico", afirma Michael Kimmel, sociólogo da Universidade Estadual de Nova York.
"Os homens são mais do que visíveis socialmente como figuras públicas, escritores, cientistas, heróis de guerra, mas nunca enquanto homens propriamente ditos, nunca enquanto seres humanos."
As origens
A idéia de focalizar o estudo do papel masculino na sociedade contemporânea começou a ganhar força nas faculdades Hobart e William Smith há cinco anos.
"Percebemos que a sociedade estava mudando, o papel da mulher já tinha se modificado muito e muito tinha sido discutido, inclusive academicamente, sobre o assunto. Mas e o do homem? Havia um vão a ser preenchido", diz Kathy Sholly, uma das divulgadoras do curso.
Em 1992, então, começou a ser oferecida em Geneva, Estado de Nova York, um seminário sobre teoria da masculinidade.
O resultado? Foi, segundo Sholly, muito melhor do que o imaginado. O seminário tornou-se o mais procurado. A classe, abarrotada de gente.
"O curso foi oferecido para primeiranistas. Foi um sucesso", conta a funcionária.
Entre as questões discutidas estava violência doméstica -o que leva diversos homens a agredir suas mulheres, espancar seus filhos e, em alguns casos, até abusar sexualmente deles.
O homossexualismo masculino também foi tema de discussão, bem como a disputa pelo mercado de trabalho com as mulheres.

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