São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Correios têm problemas com franquias

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira experiência de privatização dos serviços públicos -as franquias dos Correios- foi detonada em 1989 sem um estudo de viabilidade econômica. Esbarrou em obstáculos burocráticos, resistências internas e limites legais.
Em 1994, o Tribunal de Contas da União suspendeu a concessão de novas franquias. O tribunal entendeu que as franquias haviam sido concedidas com "afronta à ordem constitucional e legal".
Além da falta de licitação, algumas franqueadas exerciam atividades compreendidas no monopólio da União. O tribunal concluiu que a implantação do sistema foi "empírica e desordenada".
Apesar dos percalços, os Correios ainda respondem pela maior rede de franquias do país. São 1.630 agências franqueadas, mas muitos empreendedores viram naufragar seus projetos.
Em fevereiro último, segundo a revista "Franchising", a EBCT tinha US$ 8,2 milhões a receber de unidades inadimplentes, metade dos quais eram dívidas de franquias já fechadas.
Muitas agências não resistiram, diante de dificuldades para controlar a rotina do negócio e pelo longo congelamento de tarifas.
O sistema de franquias da EBCT conviveu com problemas crônicos de unidades com faturamento baixo, relacionamento difícil entre as partes (incapacidade dos correios de suprir a rede), irregularidades operacionais e financeiras.
Auditoria do TCU apurou em 1994 que a EBCT pagava a franqueadas, a título de comissão, valores maiores que o custo dos serviços prestados nas agências próprias. Não havia limites nas tabelas de remuneração, registrando-se a quebra de isonomia. O TCU também identificou a "migração" de recursos da EBCT para as franqueadas.
A EBCT foi prejudicada pela criação das agências franqueadas, pois aumentou a carga de trabalho nos centros de triagem da empresa: as franqueadas aceitavam postagens de grandes clientes sem a triagem prévia.
Os baixos salários nas franqueadas também provocaram alta rotatividade e custos adicionais para a EBCT com treinamento.
Muitas franqueadas haviam sido instaladas -por critérios políticos- em locais próximos a agências da EBCT, provocando uma concorrência predatória.
No relatório de 1996, a EBCT limita-se a informar a redução de 80 agências franqueadas, "não tendo havido substituições e tampouco a criação desse tipo de unidade, face a controvérsias legais ainda existentes sobre essa matéria".
A suspensão das vendas de franquias gerou uma superavaliação das agências em operação. Hoje, alguns franqueados temem um processo de canibalização da rede. (FREDERICO VASCONCELOS)

Texto Anterior: Projeções são otimistas
Próximo Texto: TCU constata irregularidades
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.