São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Derrota anunciada

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há jogos que se encerram em si mesmos -uma certa correlação de lances isolados, dentro das quatro linhas, leva a determinado resultado e fim de papo. É o que chamamos de tropeço, fatalidade, sei lá.
Mas não me parece que esse seja o caso da derrota do Corinthians para o Coritiba, sábado à noite. Não, essa foi uma derrota anunciada, urdida pelos acontecimentos que antecederam à entrada dos dois times em campo.
A começar pela decisão do patrocinador do Corinthians, o Banco Excel, logo depois da conquista do título paulista, de não mais investir na construção de um supertime. Ao contrário: sua clara opção foi pela recuperação imediata do alto investimento feito à época da assinatura do contrato. Ou até mesmo antes, quando saiu o grupo de notáveis que teceu a aproximação do banco ao clube. Criou-se, então, um vácuo no comando do futebol corintiano. Ou melhor, uma divisão: de um lado, o banco, que tentou eliminar as diferenças com a contratação de alguém do ramo, como Mário Sérgio, para ser seu diretor, e de outro, a cartolagem convencional do clube, já com sua autoridade minada pelo escândalo do apito, que envolvia diretamente no caso o nome do seu presidente.
Mas Mário Sérgio, para todos os efeitos, passou a ser apenas a voz, embora qualificada, do banco, e o processo de integração para um comando único ficou no meio do caminho.
Resultado: esse comando difuso, impreciso, dividido entre os frios e lógicos interesses do investidor e a paixão irracional dos cartolas, acabou provocando o buraco negro que sugou Nelsinho e drenou a confiança do time, que começou jogando bem contra o Coritiba, até levar o gol que o desestruturou por inteiro.
Por certo, Joel Santana, com sua experiência -e, sobretudo, com a estrela de campeão-, haverá de dar uma nova injeção de ânimo na turma. Além do mais, dentre os adversários, não há nenhum bicho-papão, e o Corinthians poderá seguir em fente, até a classificação.
Mas, enquanto não se resolver esta questão-chave -um comando único e qualificado do Departamento de Futebol do Corinthians- só por milagre teremos aquele super-Corinthians que a Fiel espera há tempos, em vão.
*
Foi um passeio do Palmeiras no Parque, diante de um Cruzeiro ainda inebriado pela conquista da Libertadores: 4 a 0, com três de Viola e um golaço de Oséas. Sem muito esforço, nem esplendor, aliás, o Palmeiras já no primeiro tempo metia 3 a 0.
O placar, por certo, não reflete a pequena diferença técnica entre esses dois times (a não ser se circunscrito ao jogo de ontem), mas confere uma dose de credibilidade a esse Palmeiras em transição.
Já na Fonte Nova, os 3 a 1 aplicados pelo Bahia sobre o São Paulo, vistos à distância, ganham dimensão maior do que foram na realidade.
Resumindo: não foi para o Bahia de Todos os Santos que o São Paulo perdeu. Mas, sim, para todos os santos do Bahia, que fecharam seu gol.
Diante disso, só resta ao torcedor acender uma vela para que esse resultado não altere os caminhos traçados por Dario Pereyra. Caso contrário, não haverá santo que ajude.

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