São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 1997
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Lulu Santos quebra silêncio de Duprat

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele conseguiu a proeza. "Liga Lá", o novo disco de Lulu Santos -com lançamento previsto para setembro-, traz como convidado, em uma faixa, o maestro Rogério Duprat, uma das figuras-chave do movimento tropicalista em 67/68.
"Eu praticamente pendurei a chuteira, não gravo nada há uns seis ou sete anos. Prefiro estudar astronomia e astrofísica no meu sítio", afirma Duprat, 65, durante um intervalo da gravação da faixa "Tempo/Espaço".
Lulu, 44, parece não ter precisado lutar muito pelo privilégio. "Ele telefonou, eu gosto dele, é um cara legal", diz Duprat, para explicar a concessão.
O interesse de Duprat pela astrofísica vem cair como de encomenda sobre as intenções de Lulu, hoje interessado na trilha sonora de "2001, uma Odisséia no Espaço" (68), de Stanley Kubrick, e em outros experimentos "lunáticos".
"Esse disco é o resultado da minha reflexão sobre a música popular brasileira, o que quero é fazer sua desarticulação. Mas não quero me imaginar como um diluidor. Acho que coloco um laser, um microscópio eletrônico. É uma coisa totalmente fim-de-século, de falência das crenças", afirma Lulu Santos.
Os experimentos são levados a cabo pelo equilíbrio, meio a meio, de faixas inéditas e regravações de clássicos da MPB -em geral, por via de referências como tecno, drum'n'bass, eletrônica, a velha soul music.
Entram nesse cardápio uma releitura drum'n'bass/interespacial de "Ando Meio Desligado" (70), dos Mutantes, e uma versão tecno para "Fé Cega, Faca Amolada" (75), de Milton Nascimento.
Há ainda "Chico Brito", de Wilson Batista, que Paulinho da Viola gravou em 78, "Dê um Rolê", dos Novos Baianos, que Gal lançou em 71, e "Vôo de Coração" (83), clássico kitsch de Ritchie, mas inéditas na velha clave rock/balada.
O pretexto de desarticular conceitos é razão também para o convite a Duprat, artífice da convulsão da canção popular no momento tropicalista.
"Pedi que ele escrevesse uma galáxia, e ele fez esse trabalho maravilhoso. Duprat não é o George Martin (produtor dos Beatles) brasileiro, é o George Martin da minha vida. Aliás, o George Martin é muito mais careta que ele."
Com "Liga Lá", fica abolida a conversa lançada por Lulu há um ano, de que "Anticiclone Tropical" (96) seria seu último disco.
"Isso desdiz tudo que eu disse. Não estava tendo prazer, era o final da tangência criativa com o Marcelo 'Memê' Mansur, que, por gloriosa que tenha sido, não vai acontecer mais. Agora volta a brincadeira libidinosa, de fazer discurso com sonoridade."

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